O Ministério dos Transportes apresentou um estudo inédito que analisa os impactos e riscos da mudança climática sobre a infraestrutura de rodovias e ferrovias no Brasil. Assim como, os futuros projetos de transporte. A pesquisa revela um conjunto de 58 ações necessárias para a preservação da infraestrutura viária no país.
Desenvolvido com a colaboração de mais de 60 especialistas, esse estudo representa um passo fundamental para a criação de diretrizes mais resilientes e ecologicamente sustentáveis para os empreendimentos no setor de transportes.
Segundo Cloves Benevides, subsecretário de Sustentabilidade do Ministério dos Transportes, esse relatório estabelece as bases para a próxima fase do projeto, na qual a equipe técnica será encarregada de precificar as ações e indicar novas premissas para a concepção de políticas públicas e regulatórias no setor de infraestrutura de transportes.
O estudo avaliou os três principais tipos de impacto relacionados às rodovias e ferrovias: deslizamentos, erosões e altas temperaturas, além de outros dois impactos identificados exclusivamente nas rodovias, sendo alagamentos e queimadas.
No caso das rodovias, o relatório sugere a adoção de 10 medidas de adaptação e mitigação, juntamente com 11 soluções baseadas na natureza. Para as ferrovias, o estudo indica 14 medidas de adaptação e mais 16 soluções baseadas na natureza.
O estudo também criou cinco índices para medir o risco de impacto, variando de “Muito Baixo” a “Muito Alto”.
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Rodovias
Em relação ao modal rodoviário, o estudo aponta que os riscos de alagamentos e inundações nas estradas brasileiras são considerados “baixos” ou “muito baixos”. Isso na maioria do país, exceto em alguns trechos de “nível médio” nos estados do Pará e Maranhão, bem como em pontos específicos do litoral do Nordeste.
No entanto, trechos da BR-116 e da BR-381 apresentam médio e alto risco devido ao tráfego intenso, e a BR-163, no Pará, é afetada pela sensibilidade da infraestrutura e do meio biofísico da região. Mesmo considerando um cenário de altas emissões no curto prazo (2046 – 2065), 84,1% das rodovias se mantêm ao nível baixo de risco.
No que diz respeito a deslizamentos, o impacto é mais pronunciado nas rodovias das regiões Sul e Sudeste, como a Serra do Mar e a Serra Geral, bem como nas estradas litorâneas do Nordeste e na BR-230, entre Altamira e Marabá, no Pará. Quanto às erosões, os trechos mais críticos estão concentrados nas rodovias do Pará, com destaque para a BR-163, em estradas da região Sul e em trechos de vias do Nordeste, especialmente no litoral (BR-101), onde o risco é considerado médio.
Em relação a queimadas e incêndios, a ameaça é baixa para 68,1% da malha rodoviária brasileira, mas o risco médio atinge 31,9% das vias em regiões como o interior do Nordeste (MA, CE, RN e BA) e do Norte (Tocantins e Pará). No caso das consequências associadas às altas temperaturas, há um predomínio do nível médio de riscos, atingindo 63,2% da malha rodoviária brasileira, principalmente em trechos no interior do país.
Ferrovias
O estudo revela a necessidade de medidas preventivas para reduzir os impactos da ameaça climática em algumas das linhas férreas brasileiras. O índice de Risco Climático (IRC) das ferrovias apresentou níveis “alto” e “muito alto”. Isso para deslizamentos em trechos nas estradas de ferro do Litoral de São Paulo, Minas/Rio, Vitória/Minas e Carajás, entre Pará e Maranhão. A ameaça de impacto com “nível alto” gerado por erosão está mais concentrada nas estradas de ferro Carajás, Minas-Rio e Vitória-Minas. Os impactos provocados por altas temperaturas ameaçam trechos das ferrovias Vitória-Minas, Minas-Rio, Carajás (PA-MA) e Porto Alegre-Uruguaiana (RS).
Mitigação
Para o modal ferroviário, o estudo recomenda medidas estruturais como o plantio de florestas de proteção. Além disso, o melhoramento da drenagem, o uso de musgos e líquens para controle de erosão. Inclui a substituição de trilhos articulados por trilhos soldados continuamente e o manejo de vegetação ao longo do corredor ferroviário, entre outras iniciativas.
No caso do modal rodoviário, as medidas estruturais incluem a melhoria da gestão nas planícies de inundação. Sobretudo, com a construção de túneis de drenagem embaixo de grandes rodovias e a instalação de barreiras naturais de sedimentação e florestas. Dessa forma, criando assim uma zona localizada de amortecimento de impactos climáticos.
O Ministério dos Transportes desenvolveu o projeto AdaptaVias. Isso em parceria com a Agência Alemã de Cooperação Internacional. Além disso, com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Sobretudo, com objetivo de aprimorar a adaptação da infraestrutura de transportes às mudanças climáticas. A pesquisa representa um importante avanço na busca por uma infraestrutura mais resiliente e preparada para enfrentar os desafios impostos pela mudança climática.