O Espírito Santo vive um momento estratégico de transformação econômica. Com localização privilegiada na costa sudeste do Brasil e cercado por mais de 60% do PIB nacional em um raio de 1.200 km, o estado se fortalece como um dos principais hubs logísticos do país. A previsão é de que até 2030, mais de R$ 100 bilhões em investimentos produtivos sejam aplicados em território capixaba, impulsionando não apenas a indústria, mas todo o setor produtivo.
Os dados são do Observatório da Indústria da Findes, por meio da plataforma Bússola do Investimento, que mapeou quase 300 projetos previstos para os próximos anos. Desses, aproximadamente 90% têm origem em capital privado ou misto, o que demonstra a confiança do mercado no potencial de crescimento do estado.
Logística: o motor do desenvolvimento
O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Paulo Baraona, destaca que os investimentos em infraestrutura são fundamentais para alavancar a competitividade capixaba. “Estamos caminhando, mas ainda assim é preciso acelerar o passo. Os desafios persistem, e superá-los é essencial para o Espírito Santo se consolidar como hub logístico nacional”, afirma.
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As rodovias BR-101 e BR-262, dois dos principais corredores de escoamento de cargas do estado, estão no topo das prioridades. Após anos de impasse, a BR-101, sob concessão da Eco101, passará por repactuação contratual, e o novo modelo prevê R$ 10 bilhões em investimentos, com duplicação de 169 km, além de melhorias em faixas adicionais e segurança viária.
Já a BR-262, que liga Vitória a Belo Horizonte, deve finalmente sair do papel com a tão aguardada duplicação. O projeto terá início em 2025, com aporte inicial de R$ 2,3 bilhões oriundos do acordo de reparação da tragédia de Mariana. O traçado, inaugurado em 1968, continua o mesmo até hoje, sem duplicações significativas.
Recorde histórico nos portos capixabas
O complexo portuário capixaba alcançou em 2024 o maior volume de movimentação de contêineres da história. Foram registrados 357.640 TEUs, segundo dados da Antaq e do Observatório Findes – um salto de 34,7% em relação ao ano anterior.
Os terminais localizados na Grande Vitória, como Vitória e Vila Velha, além de portos privados em expansão, como o de Aracruz e o futuro Porto Central, estão no centro dessa performance. O estado foi também o primeiro do Brasil a conceder um porto público à iniciativa privada: a VPorts (ex-Codesa) assumiu a gestão do Porto de Vitória, reforçando a aposta na eficiência e modernização da operação logística.
Ferrovias e multimodalidade: os novos trilhos do futuro
No segmento ferroviário, o destaque é a EF-118, ferrovia federal que ligará os portos do Espírito Santo ao Rio de Janeiro. O projeto, considerado prioritário pelo governo federal, já passou por audiências públicas e deve ter o edital de licitação lançado ainda em 2025, com início das obras previsto para 2026.
“A EF-118 será estratégica não só para o Espírito Santo, mas para toda a região Sudeste, com impactos positivos também para Bahia e Rio de Janeiro”, afirma Baraona. A ferrovia vai viabilizar a conexão dos portos capixabas com a malha nacional, promovendo maior eficiência no escoamento de cargas e redução de custos logísticos.
Arco Leste: integração regional e desenvolvimento
Outro conceito que ganha força é o Arco Leste, um grande corredor logístico que busca integrar os portos da Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro por meio de rodovias e ferrovias. A proposta, articulada por governos estaduais e entidades como a Findes, visa consolidar o maior complexo logístico-portuário do Brasil, com forte atuação no comércio exterior.
O Arco Leste inclui projetos como os portos de Aracruz, São Mateus, Presidente Kennedy (Porto Central) e o Porto do Açu, no norte fluminense. Todos estão em diferentes estágios de desenvolvimento e somam-se a um plano de infraestrutura integrada que tornará a costa leste brasileira uma nova potência logística.
Educação voltada ao setor portuário
Para formar mão de obra qualificada que atenda à crescente demanda do setor logístico, o Senai-ES lançará no segundo semestre de 2025 o Senai Porto – a primeira unidade educacional instalada dentro de uma área portuária no Espírito Santo.
Localizado no Armazém 3 do Porto de Vitória, o projeto contará com investimento de R$ 34,2 milhões e capacidade para atender até 1.800 alunos por dia, com cursos voltados para Logística, Tecnologia da Informação, Gestão Portuária e Economia do Mar.
Um novo ciclo de crescimento
O Espírito Santo tem demonstrado capacidade de unir o setor público, privado e a sociedade em torno de uma agenda estratégica para o desenvolvimento. “Ter uma boa infraestrutura é fundamental para tornar a indústria mais competitiva, especialmente em um momento em que ela está agregando cada vez mais valor aos seus produtos”, conclui o presidente da Findes.


