No artigo de Agapito Sobrinho, CEO da BBM Logística, enviado ao Frota News, entenda por que colocar o cliente no centro da gestão é o caminho para transformar transporte rodoviário em vantagem competitiva — e não apenas em uma despesa a ser cortada.
Transformando a logística, de custo a ser reduzido, para um ativo estratégico
Por Agapito Sobrinho, CEO da BBM Logística
No competitivo segmento de transporte rodoviário de cargas, adotar uma gestão centrada no cliente deixou de ser um diferencial para se tornar questão de sobrevivência e crescimento. Em um setor pressionado por prazos, volatilidade de demanda e margens apertadas, orientar decisões, processos e cultura a partir das necessidades do embarcador e do destinatário é o que transforma a operação em geração de valor confiável, percebido e recompensado pelo mercado.
O ponto de partida é reconhecer que o cliente não compra apenas quilômetros rodados: ele compra previsibilidade, informação de qualidade e capacidade de resposta. Quando a transportadora organiza sua gestão para entender expectativas específicas — nível de serviço, janelas de entrega, sensibilidade a custo, requisitos de segurança, necessidades de visibilidade —, a operação começa a refletir essas prioridades com precisão. Isso reduz atritos operacionais, alinha expectativas e abre espaço para relacionamentos de longo prazo sustentados por confiança e resultado.
Nesse contexto, a personalização é estratégica. Roteirização que considera particularidades de cada embarcador, flexibilidade para picos sazonais, políticas claras para ocorrências e devoluções, e acordos de nível de serviço com métricas de verdade criam um ambiente em que o cliente percebe consistência e responsabilidade.
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A comunicação é outra peça central. O cliente quer saber onde está sua carga, o que pode acontecer nas próximas horas e quais alternativas existem diante de imprevistos. Uma gestão centrada no cliente compartilha status de forma proativa, utiliza múltiplos canais e padroniza a linguagem para reduzir ambiguidade. Essa transparência tem efeito duplo. Para o cliente, diminui a ansiedade, facilita o planejamento interno e reduz custos invisíveis de incerteza. Para a transportadora, reduz o volume de contatos reativos, melhora a qualidade do relacionamento e evita desgastes que corroem as margens.
Há também um componente humano incontornável. Equipes de atendimento e de operações precisam ser treinadas para ler contexto, negociar prioridades e agir com empatia sem perder eficiência. Uma cultura que legitima a escuta ativa, valoriza feedbacks e recompensa a resolução inteligente de problemas cria um ciclo virtuoso: quanto melhor a qualidade da interação, mais ricas são as informações coletadas; quanto mais ricas as informações, mais certeira a operação; quanto mais certeira a operação, mais forte a relação e a reputação.
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Os benefícios para o cliente são tangíveis. Menos tempo gasto acompanhando entregas, menos surpresas desagradáveis, mais aderência às janelas críticas, maior previsibilidade para o planejamento de produção e vendas. Isso reduz custos indiretos, melhora a experiência do próprio cliente e fortalece parcerias. Em mercados em que a disponibilidade de produto no ponto de venda é decisiva, esse nível de confiabilidade pode significar vantagem competitiva real.
Para a transportadora, os ganhos aparecem na fidelização, na redução do churn e no aumento do ticket por conta. Clientes satisfeitos tendem a consolidar volumes, a aceitar propostas de serviços com maior valor agregado e a atuar como fonte de indicação. Além disso, processos moldados por necessidades reais eliminam desperdícios: menos redespachos por falha de janela, menos recolhas emergenciais, menos litígios e menos custos ocultos com comunicação reativa. Em um setor de margens comprimidas, esse efeito composto tem impacto direto na rentabilidade.
Outro resultado é a diferenciação. Em um mercado muitas vezes comoditizado pelo preço do frete, a experiência torna-se o principal vetor de escolha. Uma gestão centrada no cliente constrói uma proposta de valor difícil de replicar de um dia para o outro, porque depende de cultura, dados, processos e pessoas alinhados. Essa barreira competitiva protege a base e sustenta crescimento mais saudável, menos sensível a flutuações de preço.
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Contudo, implementar essa abordagem exige disciplina. O feedback é combustível desse processo. Pesquisas rápidas pós-entrega, análises de NPS por rota ou produto, e painéis de causas-raiz alimentam uma espiral de aprendizagem. A cada ciclo, a empresa fica um pouco mais precisa nas promessas e mais confiável nas entregas. E quando ocorrem falhas — inevitáveis no transporte rodoviário —, a diferença está na resposta: transparência imediata, alternativas factíveis e compensações proporcionais preservam a relação e demonstram compromisso.
No longo prazo, os efeitos se acumulam. A empresa ganha previsibilidade de demanda, o que permite planejamento de frota, capacitação de motoristas e negociação mais inteligente com parceiros. O cliente, por sua vez, incorpora a confiabilidade logística à sua estratégia comercial, reduz rupturas e melhora o giro. Essa interdependência bem administrada cria um ecossistema em que todos têm incentivos para manter o padrão e elevar a barra.
Em síntese
A gestão centrada no cliente é uma escolha de posicionamento com implicações operacionais profundas, que recompensa a consistência e pune o improviso. Para as empresas de transporte rodoviário de cargas, ela oferece um caminho claro para sair da guerra de preços e competir por experiência, confiança e resultado. Para os clientes, entrega tranquilidade, previsibilidade e parceria — três valores que, em mercados disputados, valem tanto quanto a própria mercadoria transportada.
Seguir essa rota requer investimento, liderança e paciência. Mas, uma vez firmada, transforma o negócio em uma plataforma confiável de criação de valor, na qual cada quilômetro rodado significa um passo a mais na construção de relacionamentos duradouros e lucrativos.
É assim que a logística deixa de ser um custo a ser reduzido e passa a ser um ativo estratégico, com o cliente sempre no centro da estrada.


