Em uma convergência ousada entre engenharia, sustentabilidade e inovação, a Suíça inaugurou, no cantão de Neuchâtel, a primeira usina solar do mundo instalada diretamente sobre trilhos ferroviários em operação. O projeto, desenvolvido pela startup Sun-Ways, marca um avanço significativo no uso inteligente de infraestruturas já existentes para a geração de energia limpa — sem interferir na operação dos trens.
Um Projeto-Piloto Pioneiro
Instalado nas proximidades da estação de Buttes, o projeto-piloto abrange um trecho de 100 metros de trilhos e utiliza 48 módulos fotovoltaicos, cada um com capacidade de 380 watts. A expectativa é de que a produção anual de energia alcance cerca de 16.000 kWh. Essa eletricidade será injetada diretamente na rede da distribuidora local Viteos, uma das parceiras do projeto, ao lado da empresa DG-Rail, especializada em instalações elétricas ferroviárias.
O investimento na iniciativa foi de 585 mil francos suíços — o equivalente a aproximadamente R$ 3,8 milhões — e a fase de testes terá duração de três anos. Durante esse período, os responsáveis vão monitorar a durabilidade dos painéis e sua capacidade de geração em diferentes condições ambientais.
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Tecnologia de Ponta e Instalação Inteligente
O diferencial da tecnologia criada pela Sun-Ways está na sua adaptabilidade: os painéis são removíveis e se encaixam entre os trilhos sem necessidade de modificar a infraestrutura existente. A instalação pode ser feita manualmente ou com o auxílio de uma máquina ferroviária especialmente desenvolvida pela Scheuchzer SA, capaz de instalar até 1.000 metros quadrados de painéis solares por dia.
Além disso, o sistema foi projetado para resistir às exigências das vias férreas. Os painéis suportam a passagem de trens a velocidades de até 150 km/h e ventos de até 240 km/h, mantendo sua eficiência e estabilidade. A manutenção é simplificada por meio de escovas acopladas nos próprios vagões ferroviários, que realizam a limpeza automática das placas solares durante o tráfego regular.
Potencial de Transformação
Segundo estimativas da própria Sun-Ways, se toda a malha ferroviária suíça — composta por cerca de 5.000 quilômetros — fosse equipada com o sistema, seria possível produzir aproximadamente 1 terawatt-hora de eletricidade por ano. Isso representa cerca de 2% do consumo energético anual da Suíça e seria suficiente para abastecer 300.000 residências.

O potencial global, no entanto, é ainda mais promissor. A startup acredita que até metade das linhas ferroviárias do mundo poderiam adotar essa tecnologia, transformando uma enorme área atualmente subutilizada em fonte de geração de energia renovável.
Reconhecimento Internacional
A inauguração do projeto foi acompanhada por representantes dos Caminhos-de-Ferro Federais Suíços (CFF), do Departamento Federal dos Transportes (OFT) e autoridades cantonais. Delegações de países europeus, asiáticos e do Oriente Médio também demonstraram interesse em conhecer a solução de perto e avaliar sua viabilidade para aplicação em seus próprios sistemas ferroviários.
Um Novo Horizonte para a Engenharia Sustentável
Mais do que um avanço tecnológico, o projeto representa uma mudança de paradigma. Ao transformar um espaço até então negligenciado — o intervalo entre trilhos ferroviários — em uma fonte ativa de energia solar, a Sun-Ways demonstra que soluções sustentáveis podem ser tanto inovadoras quanto pragmáticas. É a prova de que a engenharia, quando bem aplicada, transforma limites em oportunidades.
Em tempos de crise climática e crescente demanda por eletricidade limpa, essa abordagem inteligente e replicável surge como um modelo de inspiração para o mundo. Combinando eficiência operacional, economia de espaço e respeito ambiental, a Suíça, mais uma vez, se coloca na vanguarda da inovação sustentável.
Para saber mais sobre o projeto e acompanhar os desdobramentos da fase de testes, acesse os portais oficiais da Sun-Ways e do Departamento Federal dos Transportes da Suíça.


