Após o avanço do biodiesel, o gás biometano desponta como a segunda principal alternativa ao diesel fóssil tradicional no processo de descarbonização das frotas de veículos pesados, especialmente caminhões. Com quase quarenta anos de experiência jornalística no setor, acompanho de perto a evolução do gás renovável desde o início da última década. Na seção Frota Sustentável do portal Frota News, dedicada à transição energética das frotas, já foram publicados mais de 150 artigos nos últimos dois anos. Neste artigo, apresento as informações mais recentes sobre o tema.
Caminhões Mercedes-Benz a gás
Até recentemente, a Mercedes-Benz descartava a possibilidade de desenvolver caminhões a gás no Brasil ou em qualquer outro país onde atua. Executivos da montadora alemã, até pouco tempo atrás, afirmavam: “Estamos completamente cientes de que temos competidores [que usam essa tecnologia] no Brasil. Entretanto, decidimos não desenvolver a tecnologia a gás porque ela não é livre de emissões de CO₂. É uma tecnologia que não representa o futuro. Por isso, decidimos seguir o caminho dos veículos elétricos com bateria e com célula de combustível.”
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Mas o que fez a montadora mudar de ideia? O crescimento das frotas de grandes transportadoras com caminhões a gás da Scania — por enquanto, a única fornecedora de modelos a gás. No primeiro ano em que a Scania lançou os modelos a gás, na Fenatran de 2019, foram vendidas 10 unidades. No ano passado, esse número cresceu para 290, e, até agosto de 2025, a montadora sueca já emplacou mais de 500 unidades, acumulando quase 2.000 caminhões a gás em circulação pelo país.
A Iveco, líder em veículos a gás na Europa, também vem se preparando para entrar nesse mercado. A empresa entregou um lote de S-Way NG (GNV/biometano) ao Grupo Cetric, para operar no transporte de resíduos. Foram negociados 28 caminhões, todos já entregues ao cliente e equipados com o motor FPT Cursor 13, de 460 cv. Os veículos possuem cilindros com capacidade total para 960 m³ de gás.
“Acreditamos muito no gás natural e no biometano como a melhor opção de combustível de transição para o diesel. Nesse sentido, temos o S-Way NG e o Tector NG atuando em operações mistas e rodoviárias”, afirma Marcio Querichelli, presidente da Iveco para a América Latina.
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Além disso, há uma tendência entre as empresas que realizam coleta de resíduos de renovarem suas frotas, preferencialmente com caminhões a gás — por razões óbvias. O resíduo que elas coletam é a matéria-prima para a produção de biometano.
Durante o evento ABX 2025, promovido pela Automotive Business, a Mercedes-Benz do Brasil confirmou que está testando caminhões movidos a gás natural e biometano no país. O anúncio foi feito em 17 de setembro por Jefferson Ferrarez, vice-presidente de Vendas, Marketing e Peças e Serviços Caminhões da Mercedes-Benz do Brasil. “O mercado tem puxado cada vez mais a discussão e se aberto cada vez mais para o gás. Então, nós estamos, sim, desenvolvendo soluções para também oferecer essa possibilidade dentro do nosso portfólio”, afirmou o executivo aos jornalistas presentes.

Segundo Ferrarez, protótipos já estão em fase de avaliação pela engenharia da marca no Brasil. A decisão de avançar com o desenvolvimento foi impulsionada pelo programa governamental Combustível do Futuro, que incentiva o uso de energias limpas, e pelo crescimento da infraestrutura de abastecimento. Estima-se que a oferta de biometano no país possa crescer até seis vezes até 2030.
Os primeiros modelos a gás da Mercedes-Benz devem atender segmentos vocacionais, como colheita de cana-de-açúcar e coleta de resíduos urbanos — setores em que a logística de abastecimento é mais previsível. Já para o transporte rodoviário de longa distância, a empresa considera que ainda é cedo, devido à limitação da infraestrutura.
Posto para frotas pesadas
Desde este mês, o complexo rodoferroviário da região de Ponta Grossa, no Paraná, conta com o posto Gas Futuro, equipado com bombas de abastecimento de gás de alta vazão. O local tem capacidade para atender até seis caminhões simultaneamente, aproximadamente 300 por dia — ou 3 mil m³ de GNV por hora. A unidade integra a Parada Vendrami, centro comercial recém-inaugurado que reúne lojas, restaurantes, escritórios, serviços como lavanderia, fretes, seguradoras, além de posto de combustíveis.
Em breve, o posto da Gas Futuro passará a operar também com biometano, tornando-se o primeiro do Brasil aberto ao público para abastecimento de frotas pesadas. Até então, existiam apenas postos privados com esse tipo de gás renovável.
O Gás Natural Veicular (GNV) é um combustível fóssil composto majoritariamente por metano, extraído de reservas subterrâneas de gás natural. Por ser de origem não renovável, sua queima contribui para a emissão de gases de efeito estufa, embora em menor escala que a gasolina ou o diesel.
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Já o biometano é um gás renovável obtido a partir do biogás, gerado pela decomposição de resíduos orgânicos como lixo doméstico, esgoto ou resíduos agroindustriais. Após passar por um processo de purificação, o biometano atinge qualidade equivalente ao GNV, podendo ser utilizado nos mesmos veículos e infraestrutura.
A principal vantagem do biometano está na sua pegada de carbono reduzida: por ser produzido a partir de resíduos, ele contribui para a economia circular e para a descarbonização das frotas, como já ocorre em iniciativas pioneiras no Brasil voltadas ao abastecimento de caminhões pesados. Os veículos a GNV emitem cerca de 15% menos CO₂ que os a diesel, enquanto os movidos a biometano podem reduzir até 90% das emissões, considerando o ciclo completo do combustível.
O biometano do posto da Gas Futuro será fornecido por um centro de tratamento de resíduos do aterro sanitário do município de Ponta Grossa. “O GNV é o combustível de transição para energias renováveis. Já o biometano é a energia renovável propriamente dita, alinhando sustentabilidade e economia circular. Ele dá autonomia para um caminhão ir e vir do Porto de Paranaguá. O posto de biometano, para abastecimento de frota pesada, será a cereja do bolo nos corredores sustentáveis do Paraná”, afirma o CEO da Gas Futuro, Rodrigo Bogacz.
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