Nos últimos 25 anos, os preços da energia elétrica e do gás natural dispararam muito acima da inflação brasileira, impondo um impacto silencioso porém profundo sobre toda a cadeia logística e, por consequência, no custo do frete rodoviário. Segundo a Associação Brasileira de Consumidores de Energia (Abrace), essa escalada energética é um dos vetores responsáveis pelo IPCA acima da meta em diversos anos.
De 2000 a 2024, enquanto o IPCA acumulou 326%, a tarifa de energia elétrica subiu 1.299% — quase quatro vezes mais. O gás natural foi ainda mais além: aumento de 2.251% no mesmo período, ou seja, sete vezes mais que a inflação geral. Esses aumentos comprometem diretamente a competitividade da indústria e do setor de transporte, um dos mais afetados pelo alto custo da energia.
Frete como vetor de repasse de custos
O transporte rodoviário é altamente dependente de combustíveis fósseis e energia elétrica. Além do diesel, insumo principal da operação de caminhões, o setor consome energia em terminais logísticos, oficinas, armazéns, pátios e também nos veículos elétricos que começam a integrar as frotas. Com o aumento dos preços desses insumos, o frete é o primeiro a sentir — e, quando possível, repassar — o impacto.
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Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) simulou os impactos do aumento do diesel no período entre julho de 2017 e janeiro de 2019. O preço do diesel subiu 15,6%, o que implicaria um aumento natural de 4,7% no frete. No entanto, com a implementação do tabelamento do frete naquele período, o reajuste efetivo chegou a 12,1%. O excedente de 7,4 pontos percentuais impactou diretamente o PIB (-0,11%), o desemprego (+0,22%) e a inflação medida pelo IPCA (+0,34 p.p.).
Energia cara, logística cara, Brasil mais caro
O custo da energia é um fator transversal na economia. A Abrace aponta que, em diversos produtos básicos como pão e leite, até 85% a 92% dos aumentos de preços podem ser atribuídos ao custo energético — desde o cultivo, passando pela industrialização até o transporte.
Quando o frete encarece, o efeito é uma cascata: indústrias ajustam suas margens, varejistas sobem os preços e o consumidor final sente o peso no bolso. O frete, que representa cerca de 4% a 5% do custo industrial de diversos produtos, se torna um multiplicador de aumentos, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil.
Uma agenda de competitividade
Para especialistas do setor, conter os reajustes abusivos da energia e garantir previsibilidade nas tarifas são medidas essenciais para evitar que o frete siga como vetor inflacionário. Além disso, políticas públicas de eficiência energética e estímulo ao uso de fontes renováveis no transporte e na indústria logística são caminhos estratégicos para quebrar o ciclo da inflação estrutural.
Dizem que o Brasil é privilegiado por natureza ao ter fontes de energia em abundância e não termos dinheiro para usufruir?


