Uma das transformações mais significativas da indústria automotiva nas duas últimas décadas foi a evolução dos caminhões e ônibus, que se tornaram mais sofisticados, seguros e eficientes após os fabricantes serem mais focados no atendimento dos frotistas, como transportadores, empresas de logísticas e embarcadores com frota própria. Até há cerca de duas décadas, havia fabricantes de automóveis que fabricavam caminhões e ônibus. No entanto, a prioridade era o veículo de passeio.
A indústria automotiva evoluiu após o entendimento que, para planejar o futuro e fazer investimentos mais assertivos, foi necessário ter mais foco no negócio de veículos comerciais.
Entre os exemplos concreto, temos o ex-grupo Fiat que foi dividido em três grupos atuais: Stellantis, CNH Industrial e Iveco Group. Naquela época, as prioridades de investimento eram para os automóveis Fiat, Alfa Romeo, Maserati e Lancia. Se possível, investiam nas outras marcas, entre elas a Iveco. De forma resumida, houve muitas mudanças até chegar no nível atual e recente, sobretudo, sendo o Grupo Iveco totalmente independente e focado nas marcas de veículos comerciais com as marcas Iveco, Iveco Bus, Heuliz (ônibus), FPT Industrial (motores), IDV (veículos militares), Astra (caminhões fora de estrada) e Magirus (equipamentos para bombeiros).
O mesmo ocorreu com outros grupos automotivos europeus para atender melhor as demandas dos clientes frotistas e as regulamentações específicas para esse tipo de veículo. Visualmente, até uma criança reconhece a diferença entre um automóvel e um caminhão. Porém, diferenciar os clientes já pode ser apenas pelo visual?
Paga-se por tecnologia
Os transportadores, tendo condições financeiras, pagam pela tecnologia com base na planilha de Excel do TCO (Custo Total de Operação), não pelo “status” ou vaidade. Pelo menos, a maioria. Volvo FH e DAF XF não são líderes de mercado por que são os mais baratos, pelo contrário.
Em 2023, o VW Polo liderou as vendas de automóveis no Brasil, custando a partir de R$ 87.449. Já o caminhão mais vendido foi o Volvo FH 540, que saía por R$ 1.084.225, valor médio, conforme a Fipe. A diferença de tecnologia e equipamentos entre os dois veículos é enorme. O caminhão, sobretudo, tem um papel essencial para o progresso de qualquer país. No Brasil, dizem que 60% do transporte de carga é feito por transporte rodoviário, um número que não achei, até hoje, uma uma explicação lógica. Na Europa o transporte rodoviário de carga é responsável por 77%, segundo a ACEA.
Fiz uma pesquisa nas 20 maiores economias do mundo. O que eu descobri? No mundo todo não existe cidade sem transporte rodoviário. O trem é importante? Lógico que é. Para quem? Esta é a pergunta importante. O trem transporta o nosso pão de cada dia? A alface do almoço? Abastece os mercados das mais de 5.700 cidades do Brasil? Leva remédio para a sua mãe? Mas se você quiser comprar toneladas de minério, soja, milho, o trem é muito útil, principalmente para os exportadores e importadores. E para a maioria dos brasileiros que precisa da comida diariamente? Não precisa existir uma competição entre modais, pois cada um tem a sua função. Já tentou andar de bicicleta e patins em uma ferrovia? E numa estrada asfaltada? O brasileiro precisa de estrada. As multinacionais de importação de commodities precisam de ferrovias.
Além de transportar cargas para as mais de 5.700 cidades brasileiras, também transporta cargas para outros modais, como trem, avião ou navio.
Legislação mais complexa
Quem dirige um caminhão, especialmente um biarticulado com bitrem ou rodotrem, precisa de muito treinamento. Não é como dirigir um carro comum. Um caminhão desses pode ter valor superior a R$ 3 milhões, incluindo os valores do cavalo mecânico, implemento rodoviário e carga. Eles também precisam cumprir normas publicadas constantemente pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito), ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), estados, municípios e mais diversos outros órgãos públicos. Tudo isso, além de seguir as regras do que o Código de Trânsito Brasileiro. Por isso, o motorista de caminhão é mais do que um motorista, é um gestor de unidade móvel (muito longo). Ele tem que ser muito responsável e cuidadoso.
Por isso, muitos grupos automotivos tomaram a decisão pela maior especialização. Alguns países têm associações que representam esses segmentos separadamente, como no México, que conta com a Amia (veículos leves) e a Anpact (veículos pesados). No Brasil, a Anfavea engloba todos os fabricantes de veículos automotores, incluindo os de máquinas agrícolas e de construção. Na Anfavea, a indústria de automóveis de passeio tem mais voz do que a de veículos pesados e máquinas agrícolas e de construção.
Volvo Group
O Grupo Volvo é uma indústria sueca que, desde 2010, se dedica à produção e comercialização de veículos comerciais, como caminhões, ônibus, equipamentos de construção (Volvo CE) e motores marítimos e industriais (Volvo Penta). Para ter foco, o Grupo Volvo vendeu a sua divisão de automóveis para a empresa chinesa Zhejiang Geely Holding Group. Além disso, o Grupo Volvo possui outras marcas no seu portfólio, como a Renault Trucks, a Rokbak, a Prevost, a Novabus, a Mack e a Arguus.
Grupo Traton
A Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) é uma empresa brasileira que nasceu dentro da Volkswagen do Brasil em 1981. Ela se tornou independente, com sucesso nacional e internacional, exportando para cerca de 30 países. Em 2018, o Grupo Volkswagen AG anunciou a criação do TRATON Group, uma holding que reúne as marcas VWCO, Scania, MAN Truck & Bus e RIO, que tem ações na bolsa de valores. Recentemente, o TRATON Group adquiriu o controle da Navistar, uma empresa norte-americana de veículos pesados, ademais, que já atuou no Brasil com a marca International.
Daimler Truck
A Daimler AG também se desmembrou em dois grupos distintos em dezembro de 2022: uma dedicada aos automóveis e vans, e outra aos caminhões e ônibus. No Brasil, elas são chamadas de Mercedes-Benz Cars & Vans e Mercedes-Benz do Brasil (caminhões e ônibus).
Conclusão
Os caminhões e ônibus tiveram uma evolução muito grande. Os caminhões mais vendidos não são os mais baratos graças ao aprendizado sobre o TCO. São os que possuem mais tecnologia, eficiência energética e conforto para o motorista profissional. Por fim, ganhou a indústria automotiva, os transportadores com opções de veículos melhores e a sociedade como um todo, com caminhões mais seguros nas estradas e menos poluentes. Lógico que, no Brasil, ainda temos uma frota antiga, mas isso é tema para outro artigo.
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