sexta-feira, dezembro 5, 2025

Reciclagem: Brasil ainda não sabe enterrar os veículos velhos

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Quando o motor dá seu último suspiro, muita gente acha que a história do veículo termina ali, na fila da reciclagem. Mas está enganado. O fim da vida útil de um automóvel, ônibus ou caminhão é, na verdade, o começo de um novo problema. E o Brasil, convenhamos, está batendo cabeça para resolver isso.

Sabe qual a taxa de reciclagem de veículos no país? Uns dizem 10%, mas a realidade está mais para 1,5% a 2%, segundo dados recentes. O resto vira peça clandestina, entulho em terreno baldio ou carcaça apodrecendo em pátio de órgão público. Enquanto isso, países como Japão, Alemanha e até a vizinha Argentina já ultrapassaram os 80% de reciclagem. No Brasil? Nem arrancando no tranco.

Abandono com CNPJ

Milhões de veículos fora de uso continuam se acumulando onde não deviam. São verdadeiros “cemitérios de lata”, que poluem o solo com óleos, baterias, fluidos e, claro, alimentam o comércio paralelo de peças — esse, sim, operando com eficiência de relojoeiro suíço.

A conta ambiental é pesada. Um único litro de óleo usado pode contaminar até 20 mil litros de água. E a conta econômica também dói: estima-se que mais de 95% das peças de um carro poderiam ser reaproveitadas — seja em oficinas, seja fundidas para nova matéria-prima. Mas falta tudo: política pública, incentivo, fiscalização e, principalmente, vontade de resolver.

O que funciona lá fora…

Enquanto aqui se discute quem deve tirar a tralha da frente, lá fora os países já resolveram. Na Europa, a lei obriga: 85% do peso do carro tem que ser reciclado, e 95% reaproveitado. No Japão, tudo é rastreado digitalmente: do showroom até o desmanche. A Argentina, que muitos brasileiros ainda torcem o nariz, já tem um sistema avançado e com boa taxa de reaproveitamento.

Por aqui, o que há de novo?

O Programa Renovar, por exemplo, foca nos caminhões velhos. A ideia é dar baixa definitiva e mandar para o desmonte estruturado. Um bom começo, mas ainda restrito aos veículos pesados — e com um apetite que lembra mais um hatch 1.0 do que um V8 biturbo.

Tem também iniciativas privadas interessantes, como startups que apostam na digitalização do processo, e alguns desmanches legais tentando fazer o certo. Mas falta escala. E falta governo.

Gerdau, Vamos e Volkswagen chegaram a fazer um projeto piloto em meados de 2023. Abaixo, o artigo publicado pela Frota News que esteve no evento da apresentação do projeto:

Outro bom exemplo é a parceria da Octa, startup brasileira para transformação da cadeia automotiva em economia circular, com a Marcopolo:

Como os exemplos acima, há outros no Brasil, por isso temos entre 1% e 10% dos veículos reciclados, mas ainda é pouco considerando o tamanho da nossa frota.

reciclagem
Levantamento da Octo

Sucateamos até a política de reciclagem

Reciclar veículos não é favor: é questão de saúde pública, segurança no trânsito e inteligência econômica. O problema é que enquanto os órgãos competentes empurram a lataria com a barriga, o país vai colecionando carros mortos sem funeral digno.

É o cúmulo: temos aço, cobre, alumínio, plástico e vidro jogados fora, enquanto importamos matéria-prima a peso de ouro. Sem falar nas peças reaproveitáveis que poderiam gerar empregos, baratear a manutenção e dar fim ao perigoso mercado paralelo.

Conclusão: ou reciclamos direito, ou o lixo nos atropela

Se o Brasil quiser sair do acostamento nessa história, vai ter que mudar a marcha: implantar legislação clara, estimular empresas com incentivos reais, educar a população e, claro, punir quem trata carro velho como bagulho de rua.

Porque carro também morre. Mas precisa ter velório digno — e reciclagem eficiente — se a gente quiser deixar um país mais limpo e mais seguro para quem continua rodando.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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