A chegada do maior navio de transporte de veículos do mundo ao Porto de Itajaí, trazendo mais de 7 mil modelos elétricos da BYD, e o anúncio da produção de híbridos na fábrica da Stellantis em Goiana (PE), marcam uma nova fase na logística da mobilidade sustentável no país.
O Brasil deu neste mês dois passos com impactos na cadeia logística e mobilidade elétrica. De um lado, o supernavio BYD Shenzhen atracou em Itajaí (SC) com a maior remessa de veículos eletrificados já enviada da China ao país. Do outro, a Stellantis revelou seus planos para eletrificar a produção nacional a partir de 2026, com a introdução da plataforma Bio-Hybrid em sua fábrica de Goiana (PE). Os dois movimentos, embora distintos, apontam para um mesmo caminho: a transformação da infraestrutura logística e produtiva para atender a um mercado cada vez mais voltado à sustentabilidade e à inovação.
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Chegada do cargueiro chinês BYD Shenzhen
O setor de logística brasileiro registrou nesta semana um marco histórico com a atracação do BYD Shenzhen, o maior navio transportador de veículos do planeta, no Porto de Itajaí (SC). Em sua primeira viagem internacional, o cargueiro trouxe mais de 7 mil veículos elétricos e híbridos da fabricante chinesa BYD (Build Your Dreams), na maior remessa já recebida pelo Brasil desse tipo de tecnologia.

Com 219,9 metros de comprimento e capacidade para até 9.200 automóveis, o navio do tipo Ro-Ro (roll-on/roll-off) é uma peça-chave na nova estratégia global da BYD de verticalizar sua logística marítima. Equipado com sistema de propulsão híbrido — que combina Gás Natural Liquefeito (GNL) com energia elétrica — o BYD Shenzhen também se destaca por reduzir de forma significativa as emissões de gases poluentes no transporte marítimo, reforçando o compromisso com práticas logísticas mais sustentáveis.

Porto de Itajaí: um hub em ascensão
A escolha do Porto de Itajaí para a operação logística não foi aleatória. Com estrutura adaptada para receber embarcações de grande porte e localização estratégica na Região Sul, o porto vem se consolidando como ponto de entrada relevante para veículos importados, especialmente os eletrificados. A operação de desembarque foi realizada com o apoio de equipes especializadas e seguiu protocolos rigorosos de eficiência e segurança.
“A chegada do BYD Shenzhen demonstra que o Brasil está preparado para operar em alto nível logístico quando se trata de mobilidade elétrica. O Porto de Itajaí já se posiciona como um hub de entrada e distribuição desses veículos”, afirma um executivo ligado à operação.
Logística integrada e sustentável
Com o crescimento da demanda por carros elétricos no Brasil, a logística de importação precisa evoluir em paralelo. A BYD já trabalha com uma frota de cargueiros própria e pretende expandir ainda mais esse modelo. Além do Shenzhen, a marca opera os navios Explorer No.1, Changzhou e Hefei, com previsão de chegar a oito embarcações até 2026. O objetivo é garantir independência logística, reduzir custos operacionais e ampliar o controle sobre prazos e rotas.
A operação realizada em Santa Catarina marca uma transição importante: da logística tradicional para uma logística verde, conectada com as metas ambientais globais e as exigências do consumidor moderno.
Impactos para o mercado e próximos passos
Além da entrega recorde, a operação sinaliza uma mudança de patamar para o mercado brasileiro de veículos eletrificados. A chegada em massa desses modelos vai permitir uma distribuição mais ágil para os concessionários, reduzir prazos de entrega e democratizar o acesso à tecnologia elétrica em diversas regiões do país.
A expectativa é que novas operações desse porte se tornem mais frequentes com o início da produção nacional da BYD, prevista para começar em breve na planta de Camaçari (BA). A estratégia integrada de importação e produção local deve transformar o Brasil em um centro logístico e industrial de relevância para o setor automotivo verde na América Latina.
Fábrica da Stellantis em Goiana
Enquanto a BYD movimenta o setor logístico com operações de importação recorde, a Stellantis traça planos ambiciosos de eletrificação com foco na produção nacional, com significativo impacto na logística. Em comemoração aos 10 anos de sua planta em Goiana (PE), o grupo anunciou um novo ciclo de investimentos de R$ 13 bilhões até 2030 apenas para a unidade pernambucana, parte dos R$ 30 bilhões que serão aplicados em todo o país.
O presidente da Stellantis América do Sul, Emanuele Cappellano, revelou que a partir de 2026 a fábrica passará a produzir veículos sobre a nova arquitetura Bio-Hybrid, que combina motores bicombustíveis com níveis variados de eletrificação. O primeiro modelo híbrido será derivado de um produto já em linha, e depois dele a planta dará início à renovação total de seu portfólio, com seis novos modelos previstos até 2028 — todos com algum nível de eletrificação.
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Além disso, a fábrica continuará focada na produção de veículos da plataforma média, com expectativas de nacionalização do Peugeot 3008, hoje montado na Europa sobre a STLA Medium, mesma base da nova geração do Jeep Compass. A flexibilidade de plataformas permitirá à montadora explorar soluções modulares e híbridas, maximizando a eficiência produtiva.
Cappellano destacou que a produção será altamente nacionalizada, com o objetivo de reduzir custos e garantir preços mais acessíveis aos consumidores. Hoje, a unidade de Goiana já emprega 6,4 mil pessoas diretamente e sustenta uma cadeia de 38 fornecedores locais — número que a Stellantis pretende quase triplicar até 2030, chegando a 100 parceiros industriais na região.
Para o setor de logística, essa movimentação representa um novo desafio: integrar, com eficiência e sustentabilidade, as cadeias de suprimentos de veículos híbridos e eletrificados, tanto importados quanto de produção nacional. A transição energética em curso exigirá não apenas investimento industrial, mas também modernização logística em todas as etapas — da chegada de peças ao escoamento de produtos acabados.


