Unificação das operações logísticas cria a maior força de transporte e distribuição de proteína animal do país, com foco em tecnologia, segurança e sustentabilidade. Saiba mais sobre a nova MBRF
A recente fusão entre dois gigantes do setor alimentício, Marfrig e BRF, anunciada nesta semana, pode transformar profundamente o panorama logístico e de transporte de cargas no Brasil. Isso, porque a junção dessas operações resulta na maior estrutura logística integrada do setor de proteína animal da América Latina, combinando frotas, sistemas tecnológicos, fornecedores de transporte e estratégias sustentáveis e de segurança.
Em nota, a companhia afirma que esse movimento visa fortalecer a presença global. Juntas, companhias somam receita líquida consolidada de R$ 152 bilhões nos últimos 12 meses e detêm 38% do portfólio global de produtos processados. Na frente de receitas e custos, por meio de iniciativas de cross-selling e sinergias na cadeia de suprimentos, a nova companhia deve chegar a R$ 485 milhões por ano. Estima-se uma redução de despesas na ordem de R$ 320 milhões anuais, com iniciativas como a unificação de estrutura comercial e logística, consolidação de um sistema operacional único e otimização da estrutura corporativa.
Com operações nacionais e internacionais de grande escala, tanto Marfrig quanto BRF vêm investindo nos últimos anos em automação, inteligência artificial, rastreabilidade, controle de frotas e iniciativas ambientais. Agora, com a unificação das estruturas logísticas, o impacto será sentido em toda a cadeia: do campo ao supermercado, passando por centros de distribuição, ferrovias, portos e rodovias.
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BRF: tecnologia embarcada e carretas de 4 eixos
A empresa conta com cerca de 1.750 veículos próprios e aproximadamente 7.200 caminhões de transportadoras parceiras equipados com tecnologias embarcadas, como sensores de fadiga, telemetria ativa e rotograma falado — que alerta os motoristas sobre riscos no trajeto.
Essa frota percorre, em média, 14 milhões de quilômetros por mês, realizando mais de 100 mil viagens mensais para abastecer 22 centros de distribuição no Brasil, isso, fora a logística internacional e nos 27 CDs no exterior.
Esses recursos monitoram comportamentos de risco, como excesso de velocidade, frenagens bruscas e perda de controle, gerando alertas em tempo real. O resultado foi uma redução de 70% nos acidentes de trânsito envolvendo veículos leves da empresa.
“Trabalhar em conjunto com as áreas de negócio é essencial para que nossas plataformas de IA e machine learning gerem valor real e fortaleçam a cultura de dados da companhia”, destaca Alexandre Biazin, gerente executivo de Tecnologia e Analytics da BRF.
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Carretas de quatro eixos aumentam eficiência e reduzem emissões
Buscando elevar ainda mais a eficiência operacional, a BRF implementou, no final do ano passado, o modelo de carretas de quatro eixos em suas operações. Utilizadas em diferentes modalidades da logística da companhia, essas carretas percorrerão as estradas brasileiras transportando tanto os produtos das marcas Sadia, Perdigão e Qualy, quanto suínos vivos para unidades produtivas.
Com capacidade de transportar até 22% mais carga que carretas tradicionais, esse modelo reduz o número de viagens e, por consequência, os custos logísticos e a emissão de poluentes. A cada seis viagens com a carreta nova completamente carregada, evita-se uma viagem que seria feita por um veículo convencional.
A BRF começou a operar com nove carretas de quatro eixos refrigeradas, com previsão de chegada de outras 36 unidades no final de 2024. No transporte de suínos, dois veículos já estão em operação desde setembro, com tecnologias como elevadores hidráulicos, climatização, aspersores, ventiladores e bebedouros automáticos, garantindo bem-estar animal e mais agilidade no carregamento e descarregamento.

“Esperamos ter cada vez mais carretas neste novo formato, garantindo à nossa logística sempre as melhores tecnologias disponíveis”, afirma Loriano Rigo, diretor de Logística da BRF.
Além disso, segundo Cezar Felipak, gerente de Logística Agro da empresa, o novo modelo abre espaço para inovações como carretas maiores e sistemas de carregamento automatizados, antes inviáveis devido ao peso e limitações de capacidade.
Marfrig: gestão multimodal e foco em transporte ferroviário
A Marfrig, por sua vez, mantém uma robusta operação baseada no transporte terceirizado, com cerca de 160 transportadoras parceiras e gestão ativa por meio do seu Programa de Gestão de Transportadoras (PGT), que avalia segurança, ESG, desempenho e eficiência.
Cerca de 75% do transporte de animais vivos ocorre em rotas com menos de 8 horas de duração, superando a meta interna de 70%. Para garantir esse desempenho, a empresa implantou sistemas de rastreamento de contêineres e construiu uma torre de controle logística no complexo de Várzea Grande (MT), monitorando entre 100 e 150 caminhões por dia.
Além do modal rodoviário, a Marfrig tem investimento pioneiro no uso de ferrovias. Os dados disponíveis são de 2021, quando 30% da produção nacional era escoada por trilhos, com meta de alcançar 42%. A empresa utiliza principalmente a Malha Norte, entre Rondonópolis (MT) e Santos (SP), e avaliava a viabilidade de expandir o transporte pelo trecho São Simão–Santos, da Ferrovia Norte-Sul. O plano incluía o aumento do número de contêineres transportados de 50 para 500, promovendo uma economia de até 30% no custo do frete e redução de 65% nas emissões de gases do efeito estufa.
A empresa também aderiu ao Programa de Logística Verde Brasil (PLVB) e passou a priorizar transportadoras com frotas modernas, de baixa emissão de CO₂ e com sistemas de rastreamento por satélite.
Nos Estados Unidos, a logística é altamente verticalizada. A Marfrig opera por meio da National Carriers, sua transportadora própria, com uma frota de mais de 1.200 caminhões. Essa estrutura permite não só o transporte de gado vivo, mas também a distribuição de produtos processados em todo o território norte-americano. O modelo garante maior controle da cadeia, otimização de rotas e um padrão elevado de qualidade e rastreabilidade.
O que muda com a fusão: impacto direto na logística do Brasil
A união de Marfrig e BRF criará um ecossistema logístico inédito no Brasil, que combina capilaridade rodoviária, inteligência digital e visão multimodal.
1. Redesenho de rotas e integração de sistemas
A integração permitirá o redesenho de rotas, eliminando sobreposições, otimizando custos e ampliando a eficiência nas entregas — tanto no mercado interno quanto nas exportações.
2. Padronização e qualificação de transportadoras
Haverá reavaliação dos contratos com empresas parceiras, exigindo padrões mais elevados de segurança, tecnologia e ESG, o que pode gerar uma renovação no perfil dos prestadores de serviço logístico.
3. Mais tecnologia embarcada e inteligência artificial
Com sistemas já consolidados de telemetria, IA, sensores de fadiga e painéis de indicadores, a fusão irá consolidar um modelo logístico preditivo, conectado e automatizado.
4. Segurança como pilar central
Com a expressiva redução de acidentes nas operações da BRF, espera-se que os protocolos de segurança se tornem referência no setor, impactando não só colaboradores, mas também motoristas de frota terceirizada.
5. Sustentabilidade logística
A tendência é de ampliação do transporte ferroviário, uso de carretas de alta capacidade e aumento da eficiência energética da frota, reduzindo a pegada de carbono por tonelada transportada.
O futuro da logística brasileira no setor de alimentos será rodado com mais inteligência, segurança e responsabilidade ambiental — pelo menos, é o que se espera de uma nova empresa que passa a ter números como R$ 152 bilhões em faturamento, R$ 5 bilhões de investimento em tecnologia nos últimos três anos, 8 milhões de toneladas de alimentos produzidos e transportados e 130 milhões de colaboradores.


