Com aportes robustos, taxas zeradas e promessa de preços menores, app da 99 volta ao mercado para desafiar o iFood em um setor que vive nova guerra de gigantes.
Dois anos após encerrar as operações no segmento de delivery, a 99 — controlada pela chinesa DiDi — está de volta ao jogo. E não pretende apenas participar: quer protagonizar. Com um investimento de R$ 1 bilhão previsto para os próximos anos, a empresa relançou o aplicativo 99Food e promete mexer com o mercado dominado há mais de uma década pelo iFood.
A operação-piloto começou por Goiânia, onde o app passou a oferecer taxa zero para restaurantes por dois anos, além de descontos de até 30% para consumidores. Segundo a empresa, cerca de 4 mil entregadores já estavam ativos na capital goiana poucas semanas após o retorno. O plano é ambicioso: até 2027, a 99 pretende levar sua plataforma de entrega de comida para mais de 3.300 cidades brasileiras.
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“Apostamos em uma lógica ganha-ganha-ganha: para o restaurante, para o consumidor e para o entregador”, resume Zhenyu Liu, presidente da 99 no Brasil. Além da vertical de alimentação, o aporte bilionário também contempla a integração de serviços no aplicativo, que busca se consolidar como um super-app, reunindo mobilidade, delivery e serviços financeiros por meio da 99Pay.
Nova fase da “guerra dos apps”
O retorno da 99Food não ocorre isoladamente. Ele representa um capítulo de uma disputa acirrada que começa a se redesenhar após o fim dos contratos de exclusividade do iFood, determinado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em 2022. Desde então, novos players ganharam fôlego.A
A gigante chinesa Meituan, líder global em entrega de alimentos, estreou no país com a marca Keeta, prometendo investir R$ 5,6 bilhões ainda em 2025. A entrada da Meituan, aliás, é vista como o movimento mais ousado da atual onda de concorrência.
Embora o iFood continue com larga vantagem em participação de mercado — entre 70% e 85%, dependendo da região —, analistas indicam que os novos aportes e políticas de incentivo estão começando a mudar o comportamento de restaurantes e consumidores. O fim da exclusividade abriu as portas para uma reconfiguração do mercado.
Sustentabilidade do modelo em xeque
Apesar da euforia inicial, há dúvidas sobre a viabilidade financeira dos modelos adotados pelos novos entrantes. Subsidiar pedidos, isentar taxas e operar com margens apertadas são estratégias eficazes para atrair usuários, mas difíceis de sustentar no longo prazo. A própria 99 admite que a fase atual é de “conquista de mercado”, com planos de monetização gradual a partir de 2027.
Por outro lado, o iFood responde com inovação. Além de integrar seus serviços à plataforma Uber em algumas capitais e investir em inteligência artificial para otimizar rotas e cardápios, a empresa vem apostando em novos formatos de fidelização, como clubes de vantagens e programas de assinatura para consumidores e restaurantes.
A grande questão é: quem resistirá à nova guerra de preços e benefícios? Para muitos analistas, o cenário se assemelha a uma corrida de resistência — e não de velocidade. “Não basta ter fôlego financeiro. É preciso saber onde investir, como escalar e, principalmente, quando transformar volume em rentabilidade”, pontua Kloh.
O consumidor como protagonista
Independentemente de quem vencer a disputa, o principal beneficiado, por ora, é o consumidor. Com mais opções, melhores preços e serviços mais rápidos, o mercado de delivery urbano entra em um novo ciclo de competitividade. Para os restaurantes, a diversificação de canais também representa uma oportunidade de escapar das altas taxas que marcaram o domínio do iFood por anos.
O jogo recomeçou. E, desta vez, os concorrentes estão chegando mais fortes, mais preparados — e com muito mais dinheiro.


