quarta-feira, dezembro 18, 2024

Manifesto da AEA para descarbonização: automóveis x veículos comerciais pesados

Perdi as contas de quantas vezes já participei de reuniões de fim de ano da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), entre outros eventos da entidade. Nesta última reunião, não pude participar por questões familiares. A maioria dos transportadores e frotistas, talvez, não sabem, mas a AEA é uma entidade sem fins lucrativos de engenheiros da indústria automotiva como um todo (autopeças, montadoras de automóveis e veículos comerciais pesados) que trabalha nos bastidores para aperfeiçoar o conhecimento, traçar objetivos e com grande influência nas decisões dos órgãos públicos em prol da maior eficiência da mobilidade de pessoas e… cargas.

Assine, gratuitamente, a Newsletter Frota News

A AEA atua fornecendo conhecimento para a construção da legislação brasileira no setor da mobilidade. Ela desempenha um papel crucial na construção da legislação brasileira no setor da mobilidade. Como uma entidade sem fins lucrativos, a AEA atua como um fórum neutro de discussão sobre questões estratégicas relativas à engenharia automotiva nacional, envolvendo diretamente a indústria automotiva, órgãos governamentais, instituições de ensino e pesquisa, e entidades internacionais. No entanto, vale ressaltar que a AEA faz sugestões. A decisão de virar lei ou não é dos burocratas de órgãos públicos e dos legisladores. Há mais resultados positivos do que negativos.

Assista também o canal FrotaCast. Abaixo, a entrevista exclusiva com o presidente e CEO de Operações Comerciais Scania Brasil, Simone Montagna:

Participação ativa

A entidade contribui significativamente para o desenvolvimento de políticas públicas e regulamentações que promovem a inovação tecnológica e a sustentabilidade no setor automotivo. A entidade participa ativamente de programas governamentais, como o Inovar-Auto, o Rota 2030 e o Programa Mover, que visam aumentar a eficiência energética, reduzir as emissões de poluentes e incentivar a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.

Além disso, a AEA organiza eventos, seminários e workshops que fomentam a troca de conhecimentos e a discussão de soluções inovadoras para os desafios da mobilidade. Através de suas comissões técnicas, a AEA elabora normas técnicas, regulamentos e pareceres que embasam tecnicamente as propostas de políticas públicas, contribuindo para a evolução da engenharia automotiva no Brasil.

Sem transporte de carga não há transporte de pessoas

A minha contribuição para a AEA é chamar a atenção, que não é de pouco tempo, que ela é muito atuante no segmento de veículos leves, e isso sempre ficou claro nesses encontros com a imprensa. Se analisarmos só números absolutos, faz sentido. Se olharmos números de produção e vendas, a indústria de automóveis é prioridade nas políticas públicas. Será? Os números de caminhões são muitos inferiores, mas a economia, principalmente, a indústria automotiva não funcionaria sem os caminhões. Todo ano chamo a atenção para que a AEA dê mais atenção para isso, e está funcionando.

Veja os números da Carta da Anfavea:

Balanço 2024
Fonte: Anfavea

Além disso, vale lembrar que os 10 automóveis mais vendidos são os mais básicos e os 10 caminhões mais vendidos são os mais sofisticados, pois já há um reconhecimento do transportador pelas tecnologias de segurança, eficiência energética e conforto do motorista.

AEA
Os caminhões mais vendidos são os mais sofisticados, diferentemente dos automóveis

No encontro deste ano, a AEA lançou o Manifesto em Defesa da Descarbonização (impresso e em vídeo) sobre os diversos programas setoriais em que a entidade teve participação efetiva ao longo do ano, como o Mover e o Combustível do Futuro, apresentou o segundo ciclo do Roadmap Tecnológico Automotivo Brasileiro, agora em formato de spin-off, e detalhou a importância do sistema nacional de acreditação de laboratórios de emissões veiculares.

Baixa tecnologia x alta tecnologia

AEA
Segundo a Fipe, o preço médio do automóvel mais vendido e o preço médio do caminhão mais vendido

Na abertura do encontro, o presidente da AEA, Marcus Vinicius Aguiar, destacou – dentro do objetivo de avançar com o processo de descarbonização setorial – os acordos de cooperação firmados com o Ibama (MMA), a participação da entidade na regulamentação do Programa Mover (MDIC), ratificou assento na Câmara Temática de Assuntos Veiculares, Ambientais e Transporte Rodoviário (CTVAT), entre outros.

Enalteceu ainda o documento técnico “Roadmap Tecnológico Automotivo Brasileiro”, whitepaper conduzido por Everton Lopes, à época (2020) diretor de Tendências Tecnológicas, e que agora, sob a coordenação de Murilo Ortolan, mostra a versão 2.0 que norteia as melhores políticas públicas de descarbonização do país.

O berço na mineração

“A pauta de descarbonização, também conhecida como conceito “Do berço ao túmulo”, passou ao longo de 2024 pelas diretorias de Manufatura, de Veículos Leves e Emissões, de Veículos Pesados e Emissões, de Eletromobilidade, de Eletroeletrônica, e de mais treze diretorias e 45 comissões técnicas de nossa entidade”, reforçou Aguiar, para quem “o Brasil assumiu o protagonismo dessa pauta por ser um país privilegiado por ter diversidade de matrizes energéticas limpas e por dominar o conhecimento das principais tecnologias automotivas.

Ao vice-presidente da AEA, Everton Lopes, coube fazer uma minuciosa explanação sobre a importância das regulamentações setoriais no desenvolvimento da indústria local e na evolução da mobilidade sustentável, ao apresentar as principais políticas públicas como o Programa Mover, o Combustível do Futuro e todas as frentes responsáveis pelo programa de descarbonização.

Murilo Ortolan, diretor de Tendências Tecnológicas da entidade, por sua vez, discorreu sobre a versão 2.0 do Roadmap Tecnológico Automotivo Brasileiro, agora mais pontual em três pilares: descarbonização de veículos leves e de pesados, Inteligência Artificial e Conectividade e Segurança Veicular.

Por conta de transição energética e, consequentemente, célere transformação do setor automotivo brasileiro em novas tecnologias, ganhou relevância ainda mais acentuado o sistema nacional de laboratório de emissões veiculares. Esse tema conduziu a apresentação de Marcello Depieri, diretor de Acreditação de Laboratórios da AEA, que ratificou “o Brasil é o único país do mundo que tem um programa nacional envolvendo todos os laboratórios/segmentos que fazem parte das medições de poluentes e eficiência energética”.

Transporte de carga é transporte coletivo

De qualquer forma, ainda falta clareza sobre os planos da AEA para o setor de veículos comerciais pesados, pois é um mundo muito diferente dos veículos leves. O transporte de carga atende o interesse da coletividade, pois abastece supermercados, farmácias, hospitais, indústrias etc. A semelhança entre veículos pesados e leves tem apenas poucos componentes, como roda e volantes, e mesmo assim, são muito diferentes em tamanho, materiais, durabilidade etc.

A Frota News se posiciona a favor de maior atenção aos setores de transporte de cargas e passageiros por parte da AEA.

_______________________________________________________________________

MANIFESTO AEA EM DEFESA DA DESCARBONIZAÇÃO

É incontestável a realidade das severas consequências das mudanças climáticas, causadas por atividades humanas desde o início da era pré-industrial – marcada por períodos distintos em diferentes continentes ou países – acentuada pela intensificação da queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), que geram gases responsáveis por reter o calor, embora algumas nações ainda insistam em manter uma posição negacionista.

Diante da cientificidade e inegável constatação da crise climática, o Acordo de Paris (COP 21, de 2015) estabeleceu o aumento máximo da temperatura global de 1,5o C até 2030, por meio do qual visa-se reduzir as emissões de gases de efeito estufa e fortalecer a capacidade dos países de lidar com os impactos das mudanças climáticas.

Signatário do Acordo de Paris, o Brasil ratificou seu posicionamento em 2016, com o compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em até 37% até 2025 e em 43% até 2030, em relação aos níveis de 2005, e agora na COP 29 – de modo voluntário –, por meio do documento Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), decidiu ampliar a redução de GEE entre 59% e 67% até 2035, envolvendo todos os setores da economia, em contribuição efetiva com o planeta.

Inovar-Auto

No setor automotivo, em 2013, portanto três anos antes de alinhar-se à COP 21, o Brasil já instituía o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto), em vigor até 2017, responsável por aumentar a eficiência energética e, por consequência, a redução do consumo de combustíveis em 15%; depois com o Programa Rota 2030 – Mobilidade e Logística (2018-2022) foi alcançado novo patamar de redução do consumo de combustíveis em 11%.

A partir deste ano, o setor automotivo brasileiro é regido pelo Programa Nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que amplia a regulamentação rumo à descarbonização setorial, independente das trilhas tecnológicas a serem adotadas – combustão, híbridos, elétricos, gás, hidrogênio e/ou outras alternativas. Este programa adota o conceito estruturante “Do berço ao túmulo”, incluindo a pegada de carbono nos processos industriais e a reciclabilidade veicular.

Vale destacar que nos três programas federais do setor automotivo brasileiro, a AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva vem tendo papel preponderante, ao participar de todas os debates técnicos, por meio de estudos – solicitados pelo Governo Federal ou de iniciativas próprias –, desenvolvidos pelas comissões técnicas da entidade, além de priorizar e conduzir seus sete eventos anuais com temas de descarbonização.

Ressalte-se ainda que o Brasil é privilegiado em fontes renováveis de energia e domínio de conhecimento em tecnologias automotivas, baseadas em biomassas, que posicionam o país entre as lideranças mundiais do ranking de descarbonização. A AEA, portanto, manifesta seu total apoio aos programas industriais de baixo carbono, ao disponibilizar o conhecimento, a experiência, a criatividade e a força da Engenharia Automotiva brasileira.

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
- Publicidade -

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Últimas notícias
você pode gostar:

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui