Entrevista com Jefferson Ferrarez, da Mercedes-Benz: “Após boom dos pesados, vemos uma retomada gradual e estratégica nos demais segmentos”
O mercado de caminhões vive um momento de reacomodação após um período de forte crescimento puxado pelos pesados. Para entender os movimentos do setor em 2025, a Frota News conversou com Jefferson Ferrarez, vice-presidente de Vendas, Marketing e Peças & Serviços da Mercedes-Benz do Brasil. O executivo analisou a retração dos pesados, o avanço nos segmentos de leves, médios e semipesados, e detalhou como a montadora está posicionando suas linhas Actros e Axor (relançada ontem) para atender diferentes perfis de transportadores.
Segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos), de janeiro a junho desde ano houve o emplacamento de 29.409 caminhões pesados, com um crescimento de 19,3% sobre o mesmo período de 2023. Este volume representou 52,5% do mercado total (56.767 unidades). Já no mesmo período de 2025, foram emplacados 24.708 pesados, uma queda de 16%, representando 46% do total de 54.756 caminhões licenciados no primeiro semestre. Além de pesados, somente o segmento de semileves teve queda de 8,4%. Os demais cresceram: leves, 3,1%; médios, 23,5% e semipesados, 12%.
Com os números conhecidos, veja a seguir os principais trechos da entrevista.
A queda nos pesados após um 2024 excepcional
Ferrarez iniciou a entrevista contextualizando o desempenho recente do mercado. Segundo ele, o forte crescimento observado em 2024 — sobretudo no segundo semestre — foi impulsionado por uma conjunção favorável de fatores: consolidação da nova tecnologia Euro 6 e cenário macroeconômico positivo.
“O mercado de caminhões encerrou 2024 numa forte tendência de crescimento. A tecnologia Euro 6 já estava consolidada e houve um aquecimento em todos os segmentos, especialmente no de extrapesados. Foi um desempenho que superou qualquer
previsão da indústria.”
Contudo, o início de 2025 marcou uma virada. O aumento da taxa Selic impactou diretamente os pesados, segmento mais sensível ao custo do crédito. Em contraste, leves, médios e semipesados mantiveram ritmo de crescimento.
“O segmento extrapesado sentiu muito a elevação da Selic. Já havia tido um crescimento muito expressivo, e agora arrefeceu. Mas os demais segmentos mantiveram o fôlego, com uma demanda reprimida sendo atendida.”
Renovação de frota: um ciclo em ritmos distintos

Ferrarez também aponta que a renovação de frota contribuiu para a atual configuração de mercado. Nos pesados, esse movimento já vinha ocorrendo desde o lançamento do Euro 6, enquanto os demais segmentos começaram a renovar mais tardiamente.
“A renovação dos pesados começou com força no segundo semestre do ano passado. Agora, ela continua, mas em um ritmo mais moderado. Já os leves e semipesados estavam esperando e só agora estão renovando, mesmo com juros altos.”
Rentabilidade e eficiência pós-pandemia
Em um cenário de margens mais apertadas, a rentabilidade se tornou uma prioridade estratégica. Ferrarez confirma que a Daimler Trucks passou por uma transformação profunda desde a pandemia, buscando maior eficiência operacional.
“A indústria se reinventou após a Covid. Hoje, a Mercedes-Benz é muito mais enxuta, eficiente em custos. Isso é essencial frente à competitividade global, com novos entrantes e pressão por margens sustentáveis.”
Novo posicionamento: Actros premium e Axor competitivo
Com o relançamento da linha Axor, a Mercedes-Benz reforça sua estratégia de atuar de forma segmentada no mercado. Enquanto o Actros permanece como modelo premium, com foco em tecnologia e sofisticação, o Axor ocupa uma posição mais competitiva em preço.
“O Actros segue como nosso caminhão premium, para brigar com os suecos. O Axor entra com uma proposta mais básica e acessível, sem canibalizar o Actros. Assim, ampliamos nosso portfólio com clareza de posicionamento.”
Ferrarez ressaltou que a diversificação é essencial para atender um mercado cada vez mais exigente e segmentado.
“Ampliar o portfólio é essencial para jogar de forma correta nos diversos segmentos. O cliente precisa de opções adequadas à sua operação.”
Expectativas para o futuro
Questionado sobre novos lançamentos e expansão da família Axor, Ferrarez preferiu manter a cautela, mas deixou no ar que novidades podem surgir.
“O futuro a Deus pertence!”, respondeu, em tom bem-humorado.
Conclusão
A entrevista com Jefferson Ferrarez revela como a Mercedes-Benz do Brasil está ajustando suas estratégias à nova realidade do transporte rodoviário. Com foco na eficiência operacional, posicionamento estratégico de produtos e sensibilidade ao cenário econômico, a montadora busca manter a liderança em um mercado cada vez mais dinâmico.


