sexta-feira, dezembro 5, 2025

Indústria da multa na mira: PL propõe nova regulamentação de radares e gera polêmica

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A discussão sobre o papel dos radares de velocidade voltou ao centro do debate legislativo em 2025. O Projeto de Lei 4751/2024, apresentado pelo deputado Cabo Gilberto Silva (PL‑PB), propõe mudanças significativas na forma como a fiscalização eletrônica é implementada no país. Em tramitação na Câmara dos Deputados, a proposta busca reforçar o caráter educativo dos radares, ampliando a visibilidade e a clareza na sinalização desses dispositivos.

Entre os principais pontos, o texto obriga que radares fixos tenham iluminação indicativa e display visível, mostrando ao motorista a velocidade registrada no momento da passagem. Além disso, estabelece que esses equipamentos não poderão ser instalados em locais de difícil visualização, uma crítica recorrente de condutores e entidades que acusam a prática de estimular a chamada “indústria da multa”. Outra medida relevante é a exigência de que placas informando o limite de velocidade estejam posicionadas a no máximo 500 metros antes do radar, garantindo que os motoristas sejam devidamente alertados.

A matéria abordou também a possibilidade de regulamentação dos radares de velocidade média ainda em 2025 — um debate que se arrasta há anos e foi tema de diversos estudos técnicos. Esse modelo é visto por especialistas como mais eficaz para promover mudanças no comportamento dos condutores e já opera, de forma experimental, em algumas cidades brasileiras. No entanto, ainda falta respaldo legal para sua aplicação punitiva, e os obstáculos parecem ser mais políticos do que técnicos.

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Como funciona essa tecnologia?

Enquanto os radares convencionais registram a velocidade em um ponto fixo, os de velocidade média monitoram o tempo que um veículo leva para percorrer determinado trecho da via, calculando assim a velocidade média. Essa tecnologia tem como objetivo inibir a prática do “acelera e freia”, comum em locais com radares pontuais. Estudos internacionais reforçam a eficácia do sistema: a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que uma redução de apenas 1% na velocidade média pode diminuir em até 4% as mortes por sinistros de trânsito.

O que dizem os especialistas

Paulo Guimarães, CEO do OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária, destacou, no site da entidade, que a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) evita se posicionar de forma clara sobre o tema, por considerá-lo politicamente sensível.

O secretário nacional disse publicamente que aguarda uma decisão do Congresso para legitimar a regulamentação. No nosso entendimento, isso é uma omissão”, escreveu Guimarães.

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A regulamentação poderia avançar por meio da revisão da Resolução nº 798/2020 do Contran ou pela aprovação de um projeto de lei, como o PL 2789/2023, que trata especificamente do tema. Contudo, esse projeto segue anexado ao PL 920/2015, que integra um pacote de alterações no Código de Trânsito Brasileiro. A recomendação do OBSERVATÓRIO é que os projetos sejam desanexados e tramitem em regime de urgência.

Guimarães também apontou um impasse jurídico: parte do Congresso interpreta a expressão “velocidade permitida para o local”, presente no Código de Trânsito, como aplicável apenas a pontos fixos da via. Para o OBSERVATÓRIO, porém, “local” pode e deve ser entendido como um trecho da estrada, da mesma forma que ocorre com placas de sinalização.

É uma discussão semântica que precisa ser resolvida para que a fiscalização por trecho possa avançar”, concluiu.

Próximos passos

A proposta segue em análise nas Comissões de Viação e Transportes e de Constituição e Justiça e de Cidadania, com relatoria da deputada Rosana Valle (PL‑SP). Caso aprovado, o projeto poderá impactar diretamente a gestão do tráfego, obrigando órgãos de trânsito a revisar a instalação de radares e a reforçar a transparência na fiscalização.

Para o setor de transporte, a medida dialoga com uma demanda antiga por maior previsibilidade e justiça nas autuações, sem abrir mão da segurança viária. Ainda sem prazo para votação em plenário, o PL segue em fase de discussão, mas já mobiliza transportadores, especialistas em trânsito e representantes da sociedade civil.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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