A nova edição do estudo “Mulheres no TRC”, encomendada pelo SETCESP ao IPTC (Instituto Paulista do Transporte de Cargas) para o Movimento Vez & Voz, revela um retrato atualizado da presença feminina no transporte rodoviário de cargas. Realizado no final de 2024, o estudo reuniu 411 respostas válidas e mostrou um perfil altamente qualificado, mas que ainda enfrenta obstáculos para avançar na carreira.
A maioria das participantes tem entre 35 e 44 anos (40%) e possui formação além do nível superior: 44% cursaram MBA, mestrado ou pós-graduação. “Percebe-se que são mulheres jovens, com conhecimento especializado e potencial de entrega de resultados”, comenta Ana Jarrouge, idealizadora do Vez & Voz.
Apesar das credenciais acadêmicas e da crescente inserção no setor — que teve um aumento de 73,3% na participação feminina entre 2023 e 2024 —, a nova edição da pesquisa aponta uma queda na confiança das mulheres quanto à ascensão profissional.
Em 2020, 91% das entrevistadas desejavam ocupar cargos mais altos. Em 2024, esse número caiu para 82%. A crença na viabilidade dessa conquista também diminuiu: de 77% para 73%. Já as que se consideram preparadas para avançar passaram de 79% para 70%.
Menos da metade acredita que o setor oferece igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Para Jarrouge, o cenário econômico desafiador contribui para esse sentimento de insegurança. “Essa instabilidade afeta a todos, mas especialmente quem já enfrenta barreiras estruturais. Com a retomada da economia, acredito que esse otimismo será recuperado”, afirma.
Outro dado relevante é que 45% das entrevistadas estão no TRC há menos de cinco anos — o que reforça a entrada recente de novas profissionais com grande potencial de crescimento. E há sinais de esperança: 69% relataram ter acesso a oportunidades de capacitação, o que pode contribuir para maior equidade no futuro.
Perfil em transformação
O levantamento também traz um recorte detalhado sobre o perfil das profissionais. Entre elas, 40% têm ensino superior, 23% concluíram pós-graduação e 20% cursaram MBA. A faixa etária entre 26 e 34 anos aparece com 22%. Além disso, 42% não têm filhos, o que pode refletir decisões influenciadas pela falta de políticas de apoio à maternidade no setor.
Presença crescente, mas liderança ainda limitada
A maioria das mulheres atua em funções administrativas ou de apoio (51%). Apenas 18% ocupam cargos de liderança intermediária, e 24% estão em posições de alta liderança, como gerentes, diretoras ou presidentes — números que indicam progresso, mas ainda longe da paridade.
As ocupações mais comuns incluem analistas (22,6%), assistentes (16,3%) e coordenadoras (11,2%). No topo da hierarquia, a presença feminina ainda é tímida: 0,7% ocupam a presidência e apenas 0,2% estão na vice-presidência de empresas do setor.
Além disso, a chefia imediata de mulheres segue predominantemente masculina, o que dificulta o espelhamento e a ascensão de novas lideranças femininas.
Assédio e desigualdade persistem
A pesquisa também abordou temas sensíveis, como assédio moral e sexual. Embora os dados específicos não tenham sido divulgados no sumário executivo, a inclusão desses tópicos indica que tais problemas continuam presentes no ambiente de trabalho.
A percepção de desigualdade entre homens e mulheres no reconhecimento profissional e nas oportunidades de crescimento também permanece alta, mesmo entre aquelas que ocupam funções semelhantes.
Ambições e reconhecimento
Apesar dos entraves, a maioria das participantes demonstra ambição e busca ativa por valorização profissional — seja por meio de promoções, seja pelo envolvimento em processos decisórios e de inovação dentro das empresas.
Iniciativa pelo avanço
Idealizada por Ana Jarrouge e coordenada por Camila Florencio, a pesquisa conta com apoio de lideranças como Adriano Depentor e Marcelo Rodrigues, além de entidades parceiras do setor. A proposta é fornecer dados que sirvam de base para políticas mais inclusivas e eficazes.
O Movimento Vez & Voz, responsável pela iniciativa, também atua com eventos, conteúdos e ações voltadas à equidade de gênero. Um exemplo foi o 4º Encontro Vez & Voz, realizado em março de 2024, que premiou iniciativas de transportadoras que promovem a inclusão e a diversidade.
Conclusão
Apesar dos avanços na qualificação e da presença crescente em cargos de gestão, as mulheres no transporte rodoviário de cargas ainda enfrentam desafios estruturais relacionados à equidade, reconhecimento e segurança no ambiente de trabalho. A pesquisa “Mulheres no TRC 2024” oferece um panorama valioso para que empresas e entidades do setor desenvolvam estratégias mais eficazes de inclusão, desenvolvimento e valorização da força de trabalho feminina.


