A Marcopolo, maior fabricante de ônibus do Brasil e uma das líderes mundiais do setor, tem transformado o mercado com soluções que aliam engenharia avançada, segurança veicular e sustentabilidade. Em entrevista exclusiva à Frota News, Mauricio Gazzi, gerente de P&D da empresa, detalhou os avanços tecnológicos incorporados à oitava geração de carrocerias (G8) e ressaltou como iniciativas pioneiras têm salvado vidas nas estradas brasileiras.
Segurança como prioridade

Um dos destaques é o FIA – Frontal Impact Absorber, sistema de absorção de impacto frontal que amplia em até 40% a segurança do motorista em colisões. “Trata-se de uma célula de sobrevivência com tubos estruturais especiais, desenvolvida para criar um espaço residual maior para o condutor. Em casos reais, pode significar a diferença entre a vida e a morte”, explica Gazzi.
Os testes, realizados no campo de provas da Randon, envolveram simulações de colisão em offset (50% da frente do veículo) — o cenário mais crítico em rodovias de pista simples, que representam 86% das estradas pavimentadas do país. Com a participação do Corpo de Bombeiros, a Marcopolo também verificou ganhos expressivos no tempo de resgate: de 56 minutos para 23 minutos.
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Testes inéditos de tombamento
A preocupação com a segurança não se limita à dianteira. A Marcopolo foi a primeira fabricante do mundo a realizar um teste físico de tombamento em um ônibus double-decker (DD). Apesar de a norma R66.02 não exigir tal procedimento para veículos de dois andares, a empresa decidiu adotar a solução de forma obrigatória na linha G8, reforçando seu compromisso com a integridade dos passageiros.
No modelo, houve ainda aumento de 25% na seção das colunas laterais e elevação em 10% da altura do peitoril, o que garante maior ergonomia e proteção em caso de acidente. “Não é opcional. Se o cliente compra um DD da Geração 8, ele já sai de fábrica com essa solução”, enfatiza o executivo.
Ergonomia, conforto e customização
Além da estrutura, a ergonomia também recebeu atenção. A elevação do peitoril reposicionou o braço dos passageiros em uma posição mais confortável, unindo bem-estar e segurança. Outro ponto é a flexibilidade de configuração: empresas podem escolher layouts que vão de maior número de poltronas a versões com dois banheiros, como já ocorre em alguns mercados, como o México, onde há divisão entre masculino e feminino.
Essa liberdade de customização é vista pela Marcopolo como diferencial competitivo: “Deixamos a decisão para o cliente, que conhece seu público e sua operação”, explica Gazzi.
A confiança do passageiro
O executivo também relatou sua experiência como passageiro frequente. Ele destacou que a percepção de zelo e conservação da frota influencia diretamente na confiança. “Uma coisa é um ônibus antigo, mas bem cuidado; outra é um veículo velho e mal conservado. Passageiros mais atentos observam o estado dos pneus, o ano de fabricação e até as tecnologias embarcadas antes de viajar”, afirmou.
Essa confiança, segundo Gazzi, é fundamental em rotas críticas como a Fernão Dias (SP–MG), conhecida pelo alto índice de acidentes. “O passageiro precisa confiar na empresa. É aí que a tecnologia e a cultura de segurança se tornam diferenciais de mercado”, acrescenta.

Evolução do setor e o futuro da mobilidade
Gazzi destacou ainda a redução de 50% nos acidentes de trânsito entre 2017 e 2023, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal, resultado da combinação entre privatização de rodovias, avanço da tecnologia embarcada (ABS, airbag etc.), endurecimento legal (Lei Seca) e evolução social da categoria de motoristas.
Apesar dos avanços, ele lembra que as condições de infraestrutura no Brasil ainda impõem riscos: “Quase 90% das rodovias pavimentadas são de pista simples. Isso aumenta as chances de colisões frontais. É um desafio que reforça a importância de continuarmos inovando em segurança”, afirma.
Olhar para o futuro
A Marcopolo acompanha de perto protocolos internacionais como os testes da Euro NCAP e se prepara para novas exigências. Sistemas como airbags para motoristas de ônibus já estão no radar.
“Nosso driver é a segurança. Mesmo quando já atendemos às normas, buscamos ir além. Queremos que o G8 seja reconhecido como o ônibus mais seguro do mundo”, conclui Gazzi.

Acreditação inédita em laboratório de testes
A companhia recebeu a acreditação na norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, que define os requisitos para a competência de laboratórios de ensaio e calibração.
O reconhecimento, concedido pela Coordenação-Geral de Acreditação do Inmetro, valida a excelência técnica do Laboratório de Testes e Engenharia Experimental da unidade Ana Rech, em Caxias do Sul (RS), confirmando que a estrutura opera com competência e gera resultados confiáveis tanto no Brasil quanto no exterior. A acreditação foi registrada sob o nº CRL 1962.
Ensaios abrangidos pela acreditação
O escopo da certificação é amplo e cobre diferentes áreas críticas para a indústria de transporte:
- Mecânicos – testes de ancoragem de cintos de segurança e resistência de encostos;
- Térmicos – análise de flamabilidade de materiais internos;
- Acústicos e de vibração – medições como pressão sonora de buzinas;
- Químicos – ensaios de névoa salina e intemperismo acelerado;
- Ópticos – avaliações de brilho de superfícies.
Na prática, a acreditação garante que a Marcopolo tem competência reconhecida para conduzir ensaios de segurança de componentes e análises de resistência e durabilidade dos materiais empregados em seus ônibus.
Resultado de três anos de dedicação
O processo de acreditação levou três anos de investimento, melhorias de processos e trabalho conjunto das equipes. Para a Marcopolo, o selo não é apenas um marco técnico, mas também estratégico.
“Essa conquista é fruto de muito empenho coletivo e representa um salto importante no fortalecimento da nossa engenharia”, afirma Mauricio Gazzi, gerente de Desenvolvimento de Produtos e Tecnologias.


