Um laboratório sobre rodas. Assim é definido o Shell Starship 3.0, o futurista caminhão-trator desenvolvido pela Shell em parceria com fabricantes e engenheiros especializados para mostrar, na prática, o que é possível alcançar hoje com tecnologias sustentáveis e disponíveis no mercado. A mais nova geração do projeto aposta em uma combinação ousada: um motor Cummins a gás natural e um conjunto de soluções aerodinâmicas, leves e eficientes.
Desde sua estreia em 2018, o Starship chamou a atenção do setor com seus números de eficiência: 3,8 km/l — valor excepcional à época. Agora, com motor Cummins X15N a gás natural, o Starship 3.0 mantém o foco em eficiência operacional, mas com ênfase redobrada na redução de emissões. Ainda que a média de consumo fique em torno de 3,8 km/l — equivalente ao que o diesel mais eficiente pode entregar hoje — o diferencial está nas emissões por tonelada transportada: uma melhoria de 3,23 vezes na tonelada-km por quilo de CO₂e emitido, comparado à média do setor.
Inovação com foco na realidade das frotas
Mais do que um protótipo futurista, o Starship foi concebido como um modelo de demonstração realista. “Não faz sentido apresentar soluções inalcançáveis. A ideia é mostrar o que qualquer frota pode adotar agora”, afirma Heather Duffey, gerente global de comunicações integradas da Shell Commercial Road Transport. A empresa descartou alternativas como o hidrogênio — ainda sem infraestrutura suficiente — e escolheu o gás natural por sua viabilidade e disponibilidade imediata.

Um dos elementos mais emblemáticos do Starship é sua cabine em fibra de carbono com formato de projétil. O design não mudou muito desde a primeira geração, e com razão: é altamente aerodinâmico e contribui significativamente para a eficiência energética. Entrar na cabine é como embarcar em uma aeronave executiva: degraus retráteis, ausência de portas convencionais e um cockpit que mistura instrumentos analógicos e digitais, espelhos substituídos por câmeras e um para-brisa panorâmico que oferece visibilidade total.
Apesar da sofisticação, o interior não oferece conforto para longas estadias, como beliches ou micro-ondas. O propósito é outro: testes, coleta de dados e demonstrações técnicas.
Rodando e testando
Sobre o motor Cummins X15N. “Não dá pra sentir a diferença entre gás natural e diesel em termos de desempenho”, garante Eric Rector, caminhoneiro veterano e um dos co-pilotos do projeto. Ele e seu irmão Brian percorreram mais de 1.300 quilômetros na Califórnia, com o caminhão carregado, para levantar dados de consumo e emissões.

O motor também é capaz de operar com gás natural renovável (RNG), chamado de biomentano no Brasil, um combustível de baixo carbono derivado de resíduos orgânicos, o que potencializa ainda mais a pegada ecológica. Embora o RNG ainda enfrente desafios logísticos, o gás natural comprimido (GNC) segue como alternativa viável e disponível.
O desafio da descarbonização viável
O Shell Starship não é apenas um símbolo de inovação, mas um chamado à ação. Em meio a debates sobre eletrificação e metas ambientais ambiciosas, ele mostra que há caminhos intermediários tecnicamente sólidos, financeiramente viáveis e sustentáveis. “As frotas não vão sair comprando tecnologia nova sem ver resultados”, resume Duffey. E é justamente aí que o Starship entra: testando, provando e oferecendo dados reais para orientar decisões.
Em um cenário global onde a pressão por emissões zero cresce, o caminhão da Shell aponta um caminho possível: transição inteligente, com base na ciência, tecnologia aplicável e respeito ao ritmo do mercado. O Starship é, de fato, uma estrela em movimento — e, se depender da Shell, vai continuar iluminando o futuro do transporte de cargas por muitos quilômetros ainda.


