sábado, dezembro 6, 2025

Caminhões a gás: o que há no mundo e o que pode chegar ao Brasil

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Os caminhões a gás já são realidade no Brasil, ganham força como alternativa sustentável ao diesel e ajudam a reduzir os lixões das cidades. Nesta reportagem, analisamos os portfólios globais de montadoras como Scania, Iveco, Volvo e Volkswagen para prever quais modelos a gás podem chegar ao mercado nacional nos próximos anos 

Os caminhões movidos a gás já são realidade em muitas frotas brasileiras. Por enquanto, a principal fornecedora no país é a Scania, que iniciou o desenvolvimento dessa tecnologia em 2017 e realizou o lançamento oficial durante a Fenatran de 2019. A Iveco seguiu o mesmo caminho e apresentou dois modelos na Fenatran de 2024. 

Com exceção da Volkswagen Caminhões e Ônibus — que, embora tenha origem brasileira, faz parte de um grupo europeu — e da Agrale, única fabricante 100% nacional, as demais montadoras atuam como subsidiárias de grandes conglomerados internacionais. Isso significa que dificilmente veremos um caminhão a gás desenvolvido do zero no Brasil. A tendência é a tropicalização de modelos já disponíveis nos portfólios globais dessas marcas. 

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Diante desse cenário, para entender o que o mercado brasileiro poderá receber nos próximos anos, é necessário olhar para fora: quais modelos a gás já rodam em outros países? E quais têm maior potencial de adaptação para o Brasil? 

Nos próximos parágrafos, exploramos o portfólio global das principais montadoras que atuam no Brasil — como Scania, Iveco, Volvo, Mercedes-Benz, DAF e outras — para traçar um panorama do que pode chegar às estradas brasileiras. Afinal, o futuro da mobilidade de cargas no país está sendo desenhado agora — e uma parcela significativa dessa frota poderá ser movida a gás. 

Entendendo os conceitos: ciclo Otto, GNV e biometano

Quase todos os motores a gás modernos utilizam o ciclo Otto, o mesmo presente nos motores a gasolina. Isso proporciona um funcionamento mais silencioso em comparação com os motores a diesel, que operam em ciclo diferente. 

Assim como os motores flex (gasolina e etanol), os caminhões a gás podem rodar com GNV (gás natural veicular, de origem fóssil) e/ou biometano, combustível renovável produzido a partir da digestão de resíduos orgânicos — como dejetos animais, lixo urbano ou efluentes agroindustriais. 

Além disso, os motores a gás oferecem desempenho semelhante ao diesel, tanto em potência quanto em torque. E mais: atendem de forma ainda mais eficiente às normas ambientais mais rígidas, como a Euro 6 e o Proconve P8, em vigor no Brasil. 

Atenção: se alguma marca divulgar essas características como um “grande diferencial exclusivo”, trata-se apenas de uma estratégia de marketing. Esses atributos são comuns a toda a tecnologia atual de motores a gás. 

Scania: pioneirismo e liderança

A Scania é pioneira no segmento e, até agora, a única com portfólio global consolidado em caminhões a gás. Tanto na Europa quanto no Brasil, a montadora sueca oferece dois motores com múltiplas faixas de potência. 

Esses motores foram desenvolvidos exclusivamente para combustíveis gasosos, e não são adaptações de propulsores a diesel. Utilizam o ciclo Otto com ignição por vela, o que garante operação silenciosa, baixas emissões e confiabilidade para diversas aplicações. 

Opções de potência e torque: 

  • 9 litros — 280 cv | 1.350 Nm 
  • 9 litros — 340 cv | 1.600 Nm 
  • 13 litros — 410 cv | 2.000 Nm 
  • 13 litros — 460 cv | 2.300 Nm (lançado na última Fenatran) 

Tanques e autonomia: 

GNV (comprimido): até 300 m³ de gás armazenado em cilindros laterais. A autonomia pode chegar a 500 km com GNV e ser ainda maior com biometano de alta pureza. 

Há ainda o “mochilão”, cilindros adicionais colocados atrás da cabine. Na Argentina, são até quatro cilindros, com alcance de até 900 km. No Brasil, foi lançada a versão com dois cilindros extras, que garante autonomia de até 650 km. 

GNL (liquefeito): ideal para operações de longa distância. A Scania promete até 1.200 km de autonomia no Brasil, podendo chegar a 1.800 km na Europa, segundo informações no site da marca. 

Iveco: liderança europeia e expansão no Brasil

A Iveco é a fabricante mais avançada da Europa no segmento de caminhões a gás. Seu portfólio vai da linha leve Daily até os pesados S-Way e X-Way, este último voltado ao uso misto (rodoviário e fora de estrada). 

Os motores são desenvolvidos pela FPT Industrial, empresa do mesmo grupo industrial. 

Gama europeia: 

  • Daily CNG: motor 3.0 litros, 136 cv, 350 Nm 
  • Eurocargo CNG: motor 6.7 litros com três opções: 
  • 220 cv | 800 Nm 
  • 250 cv | 850 Nm 
  • 280 cv | 1.000 Nm (versão escolhida para o Brasil) 

Para o mercado brasileiro, a Iveco optou pelo modelo elétrico eDaily, apostando que a logística urbana adotará veículos elétricos em vez dos a gás. 

Linha pesada: 

  • S-Way: 
  • Europa — motor FPT Cursor XC13 de 500 cv | 2.200 Nm 
  • Brasil — mesma base, com 460 cv | 2.000 Nm 
  • X-Way (Europa): motor de 500 cv, voltado ao uso misto 

 Volvo: duas estratégias com motores diferentes

A Volvo adota duas tecnologias distintas: o motor de 13 litros com ciclo diesel, utilizado nos modelos FH Aero, FH e FM (com adição de HVO — diesel verde); e o motor ciclo Otto, utilizado no FE. 

Pesados (FH Aero, FH, FM): 

  • Motor 13 litros, com GNV ou biometano + HVO 
  • Potências: 420 cv, 460 cv e 500 cv 
  • Torque de até 2.500 Nm 
  • Tanques: apenas GNL 

Modelo regional (FE): 

  • Motor ciclo Otto de 320 cv e 1.356 Nm 
  • Tanques: gás comprimido (GNV) 

A Volvo do Brasil diz que acompanha e estuda todos os movimentos do segmento de caminhões a gás, mas não há planos para o lançamento no Brasil e vai aguardar o desenvolvimento da infraestrutura de abastecimento desse tipo de veículo.  

DAF Trucks 

Embora a DAF não tenha lançado nenhum caminhão movido a gás na Europa, o grupo PACCAR, proprietário da marca, desenvolve uma parceria estratégica com a Cummins para introduzir o motor Cummins X15N de 400 cv e 500 cv que pode ser utilizado em caminhões pesado no mercado dos Estados Unidos, com as marcas Kenworth e Peterbilt. 

Mercedes-Benz 

A montadora alemã já teve caminhões a gás, mas já faz alguns anos que ela descarta a possibilidade de retornar a desenvolver novos modelos. A estratégia da Mercedes-Benz é zerar as emissões do tanque a roda, sem considerar as emissões do poço a roda ou do berço ao túmulo. Assim, ela considera o gás como uma energia transitória que ainda emite CO2. Por isso, todos os seus esforços dela têm sido no desenvolvimento de caminhões elétricos — mesmo que energia elétrica seja com combustível fóssil — para o presente e a hidrogênio para o futuro.  

No caso das outras fabricantes, o raciocínio é discordante da Mercedes-Benz. Elas consideram que o gás biometano tem um papel muito importante para o meio ambiente por fazer parte da economia circular. O que significa isso? A produção de biogás, matéria prima para o biometano, utiliza um passivo ambiental — lixões, resíduos da indústria e do agronegócio — em ativos, contribuindo para melhoria ambiental em todo o seu ciclo.  

Engenharia 100% brasileira: VWCO e Agrale

As montadoras Volkswagen Caminhões e Ônibus e Agrale têm engenharia integralmente nacional. No caso da Volkswagen, apesar de fazer parte do grupo Traton (mesmo da Scania e MAN), a marca nasceu no Brasil e mantém foco em mercados emergentes. 

A VWCO apresentou na Fenatran 2024 o Constellation 26.280 6×2 a gás, com motor Cummins ciclo Otto, 280 cv e 1.100 Nm de torque. A autonomia estimada é de até 300 km. 

Já a Agrale possui ônibus movidos a gás, mas ainda não há notícias sobre caminhões com essa tecnologia em seu portfólio. 

Vendas: gás cresce, elétricos não decolam

Diferentemente do mercado de automóveis, as vendas de veículos comerciais elétricos seguem tímidas. Segundo dados da Fenabrave, de janeiro a abril de 2025 foram emplacados apenas 119 veículos comerciais elétricos no Brasil — considerando furgões, chassis-cabine e caminhões com PBT acima de 3.500 kg. A lista inclui marcas como BYD, Volvo, JAC, Tesla (com 5 unidades da Cybertruck), Ford, Mercedes-Benz, Scania, Foton e VW Caminhões. 

Por outro lado, a Scania observa um crescimento consistente e acelerado dos caminhões a gás: mais de 200 unidades foram emplacadas apenas em 2025, superando o total de todos os comerciais elétricos juntos. Desde o fim de 2019, a Scania acumula mais de 1.700 caminhões a gás vendidos no Brasil. 

Esse dado evidencia que os frotistas estão priorizando o gás como alternativa viável e eficiente para a descarbonização do transporte de cargas. 

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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