Quem entrou no site das marcas de caminhões ou já leu em sites de notícias: “Esse aqui é um caminhão extrapesado”. A palavra parece mágica. Carrega um ar de imponência, como se dissesse: “Este é o chefão da rodovia”. Mas… existe mesmo uma definição técnica do que é “extrapesado”? Quais são as diferenças entre um pesado e um extrapesado?
Pois é. Não existe.
Sim, você leu certo. “Extrapesado” é um rótulo muito mais publicitário do que técnico. Perguntei a todas as fabricantes de caminhões no Brasil e ninguém bateu o martelo sobre uma definição. Cada uma puxa a sardinha para o seu lado.
A Anfavea — a associação que representa as montadoras — tem uma tabela técnica: semileve, leve, médio, semipesado e pesado. E só. “Extrapesado”? Nem aparece na lista. O que não impede as marcas de carimbarem seus catálogos com o termo para dar aquele charme a mais, como quem classifica de SUV um carro hatch compacto dois centímetros mais alto, como é o caso do VW Tera em relação ao VW Polo.

Para testar os limites da confusão, fui perguntar também ao ChatGPT. O robô respondeu, cheio de convicção: “Pesados vão de 15 a 45 toneladas; extrapesados, acima de 45 toneladas”. Soa plausível… até você ver a lista de exemplos que ele deu. Vamos dizer que nenhum deles passaria no “vestibular” da Anfavea. Quando cobrei as fontes, recebi um combo de normas do Contran, Carta da Anfavea e interpretações que pareciam debate de boteco, e, nenhuma delas tem alguma informação sobre extrapesados.
E no mundo real? Vamos a um exemplo prático. A Volkswagen Caminhões chama o Constellation 19.380 4×2 de extrapesado. Certo. Agora, coloque na balança um Volvo FMX 540 com capacidade de tracionar até 250 toneladas — ou seja, o equivalente a puxar cinco Constellation 19.380 de uma vez. Vamos chamá-lo de quê? Super extrapesado? Ultra extrapesado? Versão “Hulk”?
No fim das contas, “extrapesado” virou quase um apelido carinhoso que as marcas usam para deixar seus brutos mais brutos. Não é um conceito técnico, não está em nenhuma norma, mas funciona como argumento de venda.
E, cá entre nós, quem está na boleia pouco se importa com o nome. O que conta mesmo é a força que vem por trás do volante — seja ela pesada, extrapesada, ou digna de super-herói.


