O segmento de caminhões com PBT em torno de 11 toneladas é relativamente recente no mercado brasileiro, mas rapidamente se consolidou como um dos mais competitivos e estratégicos para as montadoras. Para se ter uma ideia, o VW Delivery 11.180 não é só o caminhão mais vendido da Volkswagen, mas também o mais vendido considerando todos os segmentos: 4.365 unidades no acumulado de 2025, seguido dos competidores Mercedes-Benz Accelo 1117 (963 unidades e quinto mais vendido da marca) e Iveco Tector 11-190 (532 unidades e o segundo mais vendido da marca). Mas não foram essas fabricantes que criaram esta categoria há pouco mais de uma década.
A origem remete a 2013, quando a Ford Caminhões apresentou o Cargo 1119, modelo que combinava a agilidade típica de um caminhão leve urbano com a capacidade de carga de um médio. O resultado foi imediato: sucesso de vendas e a abertura de um novo nicho para operações de distribuição e serviços urbanos mais exigentes.
Poucos anos depois, em 2017, a Volkswagen Caminhões e Ônibus ampliou sua linha Delivery com o lançamento do 11.180, posicionado exatamente para disputar clientes do Cargo 1119. A aposta deu muito certo: o modelo se tornou o mais vendido da montadora de Resende e até hoje lidera a preferência dos frotistas da logística urbana.
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Em 2019, foi a vez da Iveco apostar no segmento com o Tector 11-190. Embora não tenha atingido os volumes de vendas do concorrente da Volkswagen, o modelo figura entre os mais comercializados da marca italiana, consolidando sua presença nesse mercado.
Mais recentemente, durante a Fenatran 2024, a Mercedes-Benz oficializou sua entrada nessa disputa com o lançamento do Accelo 1117 BlueTec 6, ampliando a família Accelo e conquistando a vice-liderança de médios em apenas um ano.
A batalha dos 11 toneladas
Neste artigo, analisamos em detalhes as fichas técnicas e características de uso dos três modelos. Cada modelo traz o PBT similar e características distinta: a Mercedes aposta na capacidade de carga, a Volkswagen na modernidade do projeto e a Iveco em um equilíbrio entre robustez e versatilidade.

Tabela comparativa
| Característica | Accelo 1117 (4×2) | Delivery 11.180 | Tector 11-190 (4×2) |
| Motor | MB OM 924 LA – 4,8 L – 4 cil. | Cummins ISF 3.8 – 3,8 L – 4 cil. | FPT NEF 4 – 4,5 L – 4 cil. |
| Potência | 163 cv @ 2.200 rpm | 175 cv @ 2.500 rpm | 190 cv @ 2.200-2.500 rpm |
| Torque | 610 Nm (62,2 kgfm) @ 1.200-1.600 rpm | 600 Nm (61,2 kgfm) @ 1.100-1.800 rpm | 700 Nm (71,4 kgfm) @ 1.200 rpm |
| Transmissão | Eaton ESO 6206 (manual) ou MB G 90-6 AMT | Eaton ESO 6106A (manual) ou automatizada EAO 6106A | Eaton ESO 6206B (manual) |
| Tração | 4×2 | 4×2 e 4×4 integral com reduzida | 4×2 |
| Velocidade Máx. | 120 km/h | 110 km/h | 115 km/h |
| Capacidade de rampa (PBT) | até 39% | até 76% (com reduzida) | 38% |
| Entre-eixos | 3.100 / 3.900 / 4.600 mm | 4.000 mm | 3.886 / 4.441 mm |
| Comprimento total | 6.135 a 7.965 mm | 6.535 mm | 7.066 / 7.625 mm |
| Ângulo de entrada / saída | 23° / 11° | 30° / 39° | 20° / 18° |
| PBT legal | 10.700 kg | 10.800 kg | 10.600 kg |
| PBTC / CMT | 14.000 kg | 13.200 kg | 13.000 kg |
| Carga útil máxima | até 7.260 kg | até 6.895 kg | até 7.077 kg |
| Suspensão | Molas parabólicas + amortecedores | Parabólicas (dianteira) / trapezoidais (traseira) | Parabólicas com amortecedores telescópicos (frente) / parabólicas de duplo estágio (traseira) |
| Freios | Tambor (opção disco), ABS, ASR, ESC, EBD, ESS, Top Brake | Tambor, ABS, EBD, ATC, HSA, ESC, freio motor borboleta | Tambor, ABS, EBD, ESC, ESS, Hill Holder, freio motor borboleta |
| Tanques Diesel / Arla | até 2 x 150 L / até 25 L | 150 L (+80 opcional) / 23 L (16 opcional) | 190 L (+90 opcional) / 22 L |
| Pneus | 235/75 R17.5 | 235/75 R17.5 (uso misto no caso do modelo 4×4) | 235/75 R17.5 |
| Peso em ordem de marcha | ~3.440 a 3.656 kg | 3.905 kg | 3.523 a 3.673 kg |
Análise comparativa
Cabines
Mercedes-Benz Accelo 1117 — Foi lançada em 2003 em substituição ao histórico “Mercedinho”. Uma segunda geração foi lançada em 2015 com visual inspirada nas famílias maiores e também a versão estendida. Em 2024, a Mercedes-Benz fez uma atualização visual e outras melhorias. A nova frente ficou mais clean e com menor número de peças. O conjunto ótico frontal em LED aumentou a vida útil em até 30% maior. O ângulo de entrada do veículo ficou maior. A Mercedes-Benz não informa no site e nem na ficha técnica quais são os equipamentos de série e opcionais, o que deve ser consultado em um aconcessionário.

VW Delivery 11.180 — Ela é a mais nova do mercado brasileiro entre os modelos deste segmento e com características bastante modernas para um caminhão leve. Lançada em 2017, ela é oferecida apenas na versão curta e muito bem-equipada. A versão de série é a com o pacote Prime, o que inclui ar-condcionado, trio-elétrico, rádio com bluetooth, banco do motorista com suspensão pneumática, bancos com revestimentos premium, DRL integrado aos faróis, luzes de posição, lanternas traseiras em LED, com suporte de celular e novas entradas USB e USB-C. Ainda há, como opcional, o novo pacote Highline que traz painel de instrumentos 100% digital com tela de 10 polegadas e mais 80 funcionalidades, e central multimídia de 7 polegadas.

Iveco Tector 11-190 — Os pontos mais fortes da cabine da Iveco são o espaço interno e a maior visibilidade. Por ser derivada do Iveco EuroCargo e desenvolvida para caminhões médios e semipesados, ela foi uma solução que a montadora teve para substituir a frágil cabine Vertis no segmento de leves. Da mesma forma que a Mercedes-Benz, as informações sobre equipamentos de série e opcionais devem ser obtidos em uma concessionárias.

Motores e transmissões
Mercedes-Benz Accelo 1117 — A montadora utiliza o motor OM-924 LA de fabricação própria e também utilizado em outros modelos da marca, como Accelo 917 e 1417, além de outros modelos da linha Atego, porém com potência maior, e também alguns chassis de ônibus, como o OF 1617.
E um ponto a favor a opção da caixa automatizada Mercedes-Benz G90 PowerShift 3, de terceira geração, que possui seis marchas. A tecnologia ajuda os frotistas a melhorar a qualidade de trabalho dos motoristas, melhorando a entrada de novos profissionais na profissão e, principalmente, melhorar o TCO (total custo de propriedade do caminhão). Ela melhora o desempenho do veículo e contribui para a redução no consumo de combustível, além da segurança da operação, pois o uso do câmbio manual e da embreagem manual estressam e esgotam os condutores em uma longa jornada de trabalho. Outra vantagem dele é a sexta marcha overdrive, portanto, com a relação 0,73:1, o que permite o giro menor em velocidade cruzeiro e redução do consumo de diesel.
VW Delivery 11.180 — Este é equipado com motor Cummins ISF 3.8, mais compacto e mais leve. Embora o motor seja da Cummins, a sua aplicação no Brasil está fortemente associada à Volkswagen e utilizado em outros modelos da marca, ele também faz parte do portfólio da Foton, nos modelos Foton Aumark S 916 e 1217.
Assim como a Mercedes-Benz, a VW também oferece a opção do câmbio automatizado fabricado pela Eaton. Trata-se do modelo Eaton EAO 6106A de seis velocidades desenvolvido no Brasil para as nossas características de topografia e temperaturas. Esta caixa também tem a sexta marcha overdrive, mas com a relação um pouco mais curta, de 0,78:1.
Iveco Tector 11-190 — Este é o mais potente do trio, com 190 cv e 700 Nm de torque. Ele não é fabricado pela Iveco, mas é como se fosse, pois é produzido pela FPT Industrial, empresa do mesmo Iveco Group, inclusive, fornecedora do motor do VW Delivery Express, o F1C 3.0. No caso do Tector, o motor é o FPT NEF 4. Este propulsor, além de ser aplicado em modelos da Iveco e geradores de energia, também é utilizado em máquinas agrícolas e de construção da Case e New Holland.
Em termos de transmissão, a Iveco conta apenas com a opção da transmissão manual de 6 velocidades, bastante similar às dos concorrentes. A solução para a Iveco seria utilizar a mesma caixa do VW Delivery, já que a Eaton é uma fabricante independente e já fornece caixa automatizada para outros modelos da marca.
Capacidades, pesos e entre-eixos
Em termos de PBT, a diferença entre três opções é muito pequena e, o que realmente fará diferença para a capacidade de carga útil, é a marca que tiver o menor peso em ordem de marcha nas mesmas medidas de entre-eixos. Nesse quesito, o VW Delivery leva vantagens entre os seus concorrentes quando comparamos chassis com medidas similares entre 3.880 mm e 4.000 mm:
- VW Delivery 11.180: 4.000 mm e peso em ordem de marcha de 3.350 kg.
- Mercedes-Benz Accelo 1117: 3.900 mm e 3.579 kg na versão cabine simples e 3.589 na versão cabine estendida. Vale destacar que o Accelo conta com a menor opção de entre-eixos (3.100 mm), indicada para cargas com alta concentração de peso ou para equipamentos de serviços mais pesados.
- Iveco Tector 11-190: 3.880 mm e 3.523 kg. No caso do Tector, por ser um modelo derivado de caminhões semipesados, vale acrescentar que ele não conta com entre-eixos mais curtos.
Segurança auxiliar
Os caminhões atuais contam com um conjunto avançado de tecnologias, como ABS (Sistema Antitravamento dos Freios), EBD (Distribuição Eletrônica da Força de Frenagem), ESC (Controle Eletrônico de Estabilidade), assistente de partida em rampa, entre outros.
No entanto, vale lembrar que, por muito tempo, a presença desses sistemas era um diferencial das montadoras. A boa notícia é que virou padrão após os últimos lançamentos da geração Euro 6. Em também foi para atender a Resolução 799 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), pois o Controle de Estabilidade (ESC) passou a ser um item obrigatório para todos os novos projetos e modelos de caminhões, ônibus e vans lançados no país. Mas há diferenciais no sistema de freio motor.
Mercedes-Benz Accelo 1117 com Top Brake
O sistema Top Brake do Accelo 1117 é um freio-motor de alta potência, que atua diretamente nos cilindros do motor. Ele não se limita a restringir a saída dos gases de escape, mas sim cria uma contrapressão nos cilindros, aumentando a força de frenagem do motor.
- Tecnologia: É um freio-motor de cabeçote. Ele utiliza um mecanismo que, através de um balancim, aciona a válvula de escape do motor em um momento específico do ciclo, mantendo-a aberta. Isso faz com que a pressão dos gases de escape seja liberada no cilindro, criando uma força contrária ao movimento dos pistões.
- Diferencial: Sua principal vantagem é a alta eficiência em descidas longas e íngremes. A força de frenagem adicional ajuda a manter a velocidade controlada sem a necessidade de usar o freio de serviço (rodas) constantemente, prolongando a vida útil dos componentes do freio e aumentando a segurança.
Iveco Tector 11-190 e VW Delivery 11.180 com freio-motor borboleta
Eles utilizam um freio-motor do tipo borboleta no escapamento. Este sistema é mais simples em comparação com o Top Brake e atua de maneira diferente.
- Tecnologia: Uma válvula tipo borboleta é instalada no coletor de escapamento do motor. Quando acionada, ela se fecha, impedindo a saída dos gases de escape. A contrapressão gerada dentro do coletor e dos cilindros do motor cria um efeito de frenagem, ajudando a segurar o veículo. O acionamento é eletrônico e pode ter dois estágios, permitindo ao motorista variar a intensidade da frenagem.
- Diferencial: Sua principal vantagem é a simplicidade e a confiabilidade. Além disso, a sua calibração está alinhada com a cabine COE (Cab Over Engine), que facilita a manutenção do motor e outros componentes localizados sob a cabine.
Mercado e preço
O embate no segmento de 11 toneladas está longe de acabar. Com a Volkswagen liderando as vendas com o Delivery 11.180, a Mercedes-Benz e a Iveco se firmam como fortes competidoras, cada uma com seus pontos fortes.
A escolha final dependerá das prioridades do frotista e questões mercadológicas, como preço, taxas de juros e o atendimento do concessionário na região do cliente. Segundo a FIPE, esses modelos têm o seguintes preços médios:
- Mercedes-Benz Accelo 1117: R$ 411.035
- Volkswagen Delivery 11.180 4×2: R$ 426.344
- Volkswagen Delivery 11.180 4×4: R$ 638.655
- Iveco Tector 11-190: R$ 395.370
: modernidade e tecnologia da VW, a versatilidade e força do Tector, ou a tradição e robustez do novo Accelo. A disputa, que começou com a Ford, consolidou um dos nichos mais estratégicos do mercado, e os próximos anos prometem uma corrida ainda mais acirrada por um pedaço desse mercado lucrativo.


