O cenário atual da mobilidade elétrica no Brasil apresenta um paradoxo intrigante. Por um lado, há um crescente reconhecimento global da importância dos veículos elétricos (VEs) como uma alternativa mais limpa e sustentável em comparação aos veículos movidos a combustíveis fósseis. Por outro lado, falta quem quer pagar a conta da transição energética. As locadoras brasileiras já sinalizam que não vão pagar esta conta. Elas enfrentam desafios significativos na integração dos VEs em suas frotas, conforme indicado pelos dados recentes da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA).
A ABLA reporta que os VEs representam apenas 0,5% da frota total disponível para locação, um número que reflete tanto a cautela das locadoras quanto a hesitação do mercado. A baixa taxa de utilização de 25% — muito aquém do ideal de 75% — sugere que os consumidores ainda não estão plenamente convencidos ou preparados para adotar essa nova tecnologia em massa. Além disso, o retorno financeiro abaixo do ponto de equilíbrio para os investimentos realizados em VEs é uma preocupação palpável para as empresas do setor.
Tentamos fazer uma reserva nos sites das principais locadoras de automóveis, porém, só há veículos flex disponíveis para locação. Para conseguir a locação de um elétrico, é preciso solicitar um orçamento prévio, para análise da viabilidade econômica e disponibilidade.
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Este cenário é agravado por diversos fatores. Primeiramente, a infraestrutura de suporte para VEs no Brasil continua em desenvolvimento. A falta de estações de carregamento acessíveis e convenientemente localizadas é um obstáculo significativo para a adoção em larga escala. Em segundo lugar, há uma percepção de custo elevado associado à aquisição e manutenção de VEs, apesar dos benefícios ambientais a longo prazo. Por fim, a preferência dos consumidores pelos modelos flex, que podem ser abastecidos com etanol e representam 95% da frota, destaca a familiaridade e o conforto com as tecnologias existentes.
No entanto, é importante notar que a transição para a mobilidade elétrica é um processo complexo e multifacetado que envolve não apenas considerações econômicas, mas também ambientais e sociais. Os VEs têm o potencial de reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa e melhorar a qualidade do ar urbano. Além disso, à medida que a tecnologia avança e se torna mais acessível, espera-se que os custos de aquisição e manutenção diminuam. Novas tecnologias também estão para surgir, como baterias mais eficientes, e o futuro dos veículos movidos a hidrogênio, que podem dispensar o uso das baterias de lítios, pesadas, caras e eficiência questionável.
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Para as locadoras de veículos, adaptar-se a essa mudança requer uma estratégia bem pensada. Isso pode incluir investimentos em campanhas de conscientização para educar os consumidores sobre os benefícios dos VEs, parcerias com fabricantes para melhorar a acessibilidade e a viabilidade financeira, e colaboração com o governo e outras entidades para expandir a infraestrutura de carregamento. Mas sempre ficará a pergunta: quem pagará esta conta? O dedo é sempre apontado para o outro.
Em conclusão, o presente pode parecer desafiador para as locadoras de veículos elétricos no Brasil. No entanto, o futuro detém um potencial considerável para novas tecnologias de transição energética, como o biometano e o hidrogênio. Com políticas adequadas, incentivos e uma abordagem colaborativa, é possível superar os obstáculos atuais e pavimentar o caminho para uma mobilidade mais sustentável e eficiente, sem depender das atuais baterias. A transição para os veículos movidos a energia mais limpa é uma jornada que requer paciência, inovação e compromisso de todos os envolvidos no ecossistema da mobilidade.
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