sexta-feira, maio 16, 2025

Como a Stellantis ganha dinheiro — e por que isso está cada vez mais difícil 

Em um cenário global cada vez mais desafiador para a indústria automotiva, a Stellantis — conglomerado formado pela fusão entre PSA Group e Fiat Chrysler Automobiles — enfrenta uma pressão crescente para manter sua rentabilidade. Dono de 14 marcas, incluindo Peugeot, Fiat, Jeep, Citroën, Opel e Maserati, o grupo aposta na diversificação como modelo de negócios. Mas, em 2024, essa força também se revelou uma fraqueza. 

Receita em queda, lucros pressionados

O ano de 2024 foi um divisor de águas para a Stellantis. A combinação de um ambiente macroeconômico fragilizado, aumento da concorrência nos mercados europeus e mudanças no comportamento do consumidor pressionou os números da companhia. A receita, o lucro e as margens operacionais encolheram — reflexo direto da queda nas vendas e da perda de relevância de algumas marcas em mercados-chave. 

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Um dos principais entraves é o perfil do consumidor europeu. A Stellantis tem forte presença em países como França, Itália e Alemanha, onde os compradores se mostram cada vez mais sensíveis ao preço. Esse segmento, historicamente dominado por modelos acessíveis de Fiat, Citroën e Peugeot, é justamente o alvo prioritário das marcas chinesas de veículos elétricos (EVs), que chegam com preços agressivos e tecnologia avançada. 

Stellantes
As marcas de cada grupo antes da fusão

A ameaça chinesa

Fabricantes como BYD, MG e NIO estão rapidamente ganhando participação na Europa. Com incentivos governamentais e domínio na cadeia de produção de baterias, essas empresas conseguem oferecer EVs por valores imbatíveis — especialmente em comparação com os modelos da Stellantis, que ainda enfrentam desafios para equilibrar custo e inovação tecnológica. 

Além disso, marcas como DS, Lancia e Chrysler sofrem com baixa notoriedade e falta de apelo comercial, tornando difícil justificar investimentos contínuos em marketing e desenvolvimento de produto. 

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Modelo de negócios sob revisão 

A forma como a Stellantis gera receita baseia-se na venda direta de veículos, leasing, serviços financeiros, pós-venda (manutenção e peças) e, mais recentemente, serviços digitais conectados. No entanto, a complexidade do seu portfólio tem dificultado ganhos de escala. No Brasil, por exemplo, mais de 40% das suas vendas são diretas, incluindo frotistas, locadoras, produtores rurais, taxistas e PcD. 

A rede de distribuição, fragmentada e muitas vezes despadronizada entre as marcas, compromete a experiência do cliente — um ponto crítico na era digital. A padronização das vendas online e a modernização das concessionárias são medidas urgentes para reconquistar a confiança do consumidor. 

Um futuro incerto para o gigante

Com a desaceleração da economia global e o enfraquecimento do poder de compra do consumidor europeu, a Stellantis precisa reavaliar seu posicionamento. A aposta em EVs populares, plataformas compartilhadas e digitalização da jornada de compra é acertada, mas o tempo joga contra. 

Enquanto rivais como a Tesla e as montadoras chinesas operam com estruturas mais enxutas e estratégias de produto mais focadas, a Stellantis parece, por vezes, refém de seu próprio tamanho. 

O desafio está posto: ou a empresa simplifica sua operação, fortalece sua proposta de valor e acelera sua transformação digital, ou corre o risco de ver sua relevância diluir-se diante da nova ordem automotiva. 

Os Números da Stellantis em 2024

Stellantis
Autor do gráfico: Dan Mottram – Strategic Advisor to Industrial Companies
  • Resultados financeiros mostram forte desaceleração  
  • Receita: €156,9 bilhões (queda de 17% em relação a 2023) 
  • Lucro líquido: €5,5 bilhões (queda de 70%) 
  • Margem de lucro: 3,5% (em 2023 era 9,8%) 
  • Lucro operacional: €3,7 bilhões 
  • Despesas operacionais: €16,8 bilhões 
  • Fluxo de caixa livre: negativo em €6 bilhões 

Onde dói mais

  • Queda na receita total e nas margens 
  • Alta carga de despesas com SG&A (€9,3 bi) e P&D (€5,8 bi) 
  • Despesas com reestruturação: €1,6 bilhão 
  • Diminuição do lucro operacional e retorno sobre as vendas 

Receita por Região 

  • América do Norte (Jeep, Chrysler, Dodge, RAM): €63,4 bilhões 
  • Europa Ampliada (Peugeot, Citroën, Opel, Fiat, DS, Lancia): €58,8 bilhões 
  • América do Sul (Fiat, Peugeot, Citroën, Jeep, RAM): €15,9 bilhões 
  • Oriente Médio e África: €10,1 bilhões 
  • China, Índia e Ásia-Pacífico: €2 bilhões 
  • Maserati (segmento premium): €1 bilhão 
  • Outras Receitas (incluindo serviços e parcerias): €5,6 bilhões 

Portfólio Multimarcas 

  • Mass Market: Fiat, Peugeot, Citroën, Opel, Vauxhall, Chrysler, Dodge 
  • Off-road e utilitários: Jeep, RAM 
  • Premium e luxo: Alfa Romeo, DS Automobiles, Lancia, Maserati 

Desafios regionais 

  • A Stellantis depende fortemente dos mercados europeus e norte-americanos, onde a concorrência — especialmente de marcas chinesas — está crescendo rapidamente. 
  • Mercados emergentes como América do Sul e Ásia ainda têm baixa representatividade no total da receita. 

Custo das vendas 

  • Total: €136,4 bilhões 
  • Representa 86,9% da receita 
  • Inclui custos de produção, logística, peças e fornecedores 

Despesas Operacionais Totais: €16,8 bilhões 

  • SG&A (Despesas Administrativas e Comerciais): €9,3 bilhões 
  • Pesquisa e Desenvolvimento (P&D): €5,8 bilhões 
  • Reestruturação: €1,6 bilhão 
  • Outros custos diversos: €0,1 bilhão 

Destaques

  • O investimento em inovação permanece alto, mesmo em ano de queda de receita 
  • Gastos com reestruturação indicam esforços para redução de complexidade e adaptação do portfólio 
  • A alta carga de SG&A sugere desafios de eficiência entre as múltiplas marcas e regiões 

Fontes: Dan Mottram, estrategista de indústrias; Automotive Industry Professionals e Relatório FY 2024 da Stellantis (fevereiro de 2025) 

E você, como vê o futuro da Stellantis? Acha que o grupo conseguirá se reinventar? Deixe sua opinião nos comentários.

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Nota:

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor e não representam, necessariamente, a visão deste veículo.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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